Do imaterial ao natural, a preservação do Património faz-se pelas mãos da Via Algarviana
“Via Algarviana – Um Elogio à Natureza” – assim se chama o mais recente projeto desenvolvido pela Via Algarviana, que desde 2009 vem entrelaçando vilas, cidades e gentes do Algarve, num esforço por preservar e interpretar o que há de Natural e de Imaterial no Património a Sul.
Foi da “necessidade de criar um projeto que ligasse todo o Algarve” que se idealizou a Via Algarviana, em 1996, juntamente com a Associação Algarve Walkers. No entanto, só em maio de 2009 foi oficialmente inaugurada. Deste então, atividades relacionadas com o pedestrianismo e a observação da natureza têm sido traves-mestras da operação da Via Algarviana, aliadas ao objetivo de atenuar o despovoamento do interior do Algarve e de contribuir para a preservação e interpretação do território.
A concretização dessas linhas é tecida através de ações de capacitação destinadas a técnicos das autarquias locais, entidades regionais, participantes dos municípios e público geral, por via de sessões focadas em temas como a Flora, a Biodiversidade, o Turismo Responsável, o Património Cultural e a Geodiversidade, explica a coordenadora da Vila Algarviana, Anabela Santos, à Make It Happen.
Outras iniciativas passam pelo desenvolvimento de ações com escolas de municípios algarvios de baixa densidade, nomeadamente Aljezur, Monchique, Vila do Bispo, Castro Marim e Alcoutim, sendo exemplo "a criação de um guia pedagógico com 20 ideias de atividades para incentivar os professores a percorrer com as crianças pequenos troços da Via Algarviana".
Um exemplo de percurso é o GR13 – Via Algarviana, que parte de Alcoutim, junto às margens do rio Guadiana, terminando às portas do Oceano Atlântico, no Cabo de São Vicente. São cerca 300 quilómetros que ligam as extremidades da região, divididos em 14 troços e estendidos ao longo de três Serras – Caldeirão, Monchique e Espinhaço de Cão, incluindo parte do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Tudo isto para se fazer sem pressa, com o vagar necessário para ir interpretando o território, as povoações rurais que vão surgindo entre a calma dos passos que trilham o interior algarvio.
Do imaterial se faz uma identidade
Além do Património Natural, também no Imaterial assentam as preocupações e desígnios da Via Algarviana. A prová-lo, eis “Via Algarviana – Um Elogio à Natureza: Os Ofícios Tradicionais”, uma exposição cujo teor itinerário a levou para vários concelhos algarvios. Conta com cinco painéis, sendo cada um dedicado a um ofício ou técnica que singulariza cada um dos cinco territórios: a Renda a representar Vila do Bispo; a Cadeiras de Tesoura, por Monchique; a Pesca de Cana, como símbolo de Castro Marim; a Cerâmica, a representar a Olaria de Alcoutim; e, por fim, a roca e o linho, a representar a arte de Fiar, de Aljezur. São ofícios que singularizam os lugares mas que se cruzam num ponto que lhes é comum: a robustez de saberes que participam também na identidade de um povo. O lugar da imaterialidade na construção do imaginário social.
São afazeres que tendem para a ancestralidade, e que esta exposição não só elogia, como contribui para a perpetuação num tempo que assim se suspende, evitando o risco de sucumbir nesse imaginário social - que é também nosso.
Outrora, estes ofícios "eram renovados automaticamente porque os pais ensinavam aos mais novos logo de pequenos. Hoje em dia, isso já não acontece, está-se a perder – e daí a necessidade de projetos como este", salienta Anabela Santos.
A esse desígnio acresce o de contribuir para o conhecimento e aproximação às gentes estrangeiras, para as quais estes saberes são forasteiros. Ao contactarem com eles, acredita-se, aproximar-se-ão das próprias gentes locais.
Depois de ter sido recebida, pela última vez, no Centro de Interpretação de Vila do Bispo, onde esteve entre 27 de setembro e 27 de outubro, a exposição aguarda, por agora, um novo espaço que a acolha.
Apesar das mazelas do não tão distante tempo de confinamento, a Via Algarviana “continua com outras candidaturas a decorrer, novos percursos por oficializar", sendo que grande parte vai decorrer no concelho de Monchique, com o intuito de "contribuir para a revitalização do território” – uma ideia que vem no seguimento dos incêndios de 2018. Porque, salienta Anabela, “Monchique não tem praia, mas tem um belíssimo território natural.”
Além disso, visa-se continuar a ligação com as escolas, pois, acrescenta, “é necessário incutir o gosto pelas caminhadas nas gerações mais novas. Quando vemos a liberdade das crianças que correm no meio do campo, a felicidade é sempre muita".
FONTE Make It Happen FOTOGRAFIA Via Algarviana