Faro mostrou o seu mote para ser Capital Europeia da Cultura

O fim-de-tarde desta segunda-feira foi marcada pela apresentação da candidatura de Faro à Capital Europeia da Cultura 2027. A celebração realizou-se no Teatro das Figuras, num espaço preparado para acolher de maneira receptiva a população algarvia. Foi ao cair do sol que as portas do Grande Auditório se abriram, e que os entusiastas tiveram a oportunidade de apreciar alguns dos projetos desenvolvidos durante estes anos.

 
 

A abertura foi realizada pelo vice-presidente da Câmara de Faro, Paulo Santos, que levou o público a conhecer sobre o processo decorrido, assim como os desafios atravessados ao longo dele.

Nas palavras do vice-presidente, logo no início do processo estava claro que um dos fatores que tornam Faro uma cidade única nesta candidatura seria a união do Algarve. O percurso foi marcado por uma força conjunta de toda a região, o que permitiu que as cidades criassem diferentes formas de explorar a cultura no Sul de Portugal. A AMAL (Comunidade Intermunicipal do Algarve), a Universidade do Algarve e também a Região de Turismo do Algarve são os co-produtores desta candidatura, e tornaram-se peça chave para este objetivo.

Um dos representantes desta união regional é o Bezaranha, o projeto que conta com a gestão da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, (CCRD Algarve) e a liderança da AMAL. A iniciativa é formada pelos 16 municípios da região e vem para tornar possível as atividades culturais em tempos de confinamento, sendo viés da cultura por todo o Algarve.

O seu slogan “Há ventos que vêm por bem” demonstra esta resistência cultural que procura ainda dar vida e esperança aos adeptos das artes. Este foi o primeiro projeto realizado com este intuito por todo o Algarve, agregando inúmeras iniciativas culturais pela região no valor de Um milhão de euros.

Para além da etapa de formalização e desenvolvimento, o processo de candidatura buscou ainda ouvir e compreender a população da cidade. Um dos projetos desenvolvidos neste momento foi o “Pergunta”, o qual trouxe a seguinte questão aos cidadãos farenses: o que está mal em Faro?

As conclusões dentro dos projetos foram muitas, mas a principal ideia citada por Paulo Santos foi a necessidade de aumentar o incentivo e a produção cultural. Dos diversos profissionais, apreciadores e leigos ouvidos, a conclusão que se chega, portanto, é de que Faro tem de dispor de outra maneira a cultura para a sua população.

 
Temos de aumentar a nossa produção cultural. Somos das regiões com maior fragilidade cultural.
— Paulo Santos
 

Tendo em mente os depoimentos recolhidos pela equipa do processo, destacam-se quatro grandes vertentes: posição Geográfica no Mundo, a relação com África e o Mediterrâneo, as alterações climáticas e o tratamento da sua paisagem natural e as questões voltadas à gentrificação e o Turismo.

Este foi o início da estruturação do processo de candidatura, que foi debatido com diversos especialistas internacionais, com o intuito de encontrar a solução para estes fatores.

Os inúmeros projetos desenvolvidos ao longo dos anos foram então, submetidos em formato de bidbook para a avaliação do júri. Os temas eleitos para representar e estabelecer o processo foram O Norte do Sul, Natureza em Trânsito, Espaços Flutuantes e também Dar e Receber. Todos estes temas englobam diferentes projetos, envolvendo várias pessoas com faixas etárias, ideias e experiências únicas.

 

Vice-presidente da Câmara Municipal de Faro, Paulo Santos

 

Perspectiva Política do processo

A apresentadora da celebração foi a Presidente da Associação ArQuente Fúlvia Almeida. Utilizando o formato de Talk Show, Fúlvia convidou diversos nomes importantes para o desenvolvimento e execução desta candidatura.

Em primeira mão, subiram ao palco o Presidente da AMAL, António Pina para trazer a perspectiva interna do significado desta candidatura. Dentre os assuntos citados, alguns dos pontos que mais se destacaram foram o impacto que Faro tem como cidade candidata à Capital Europeia da Cultura, e principalmente o espírito de região do Algarve em prol deste processo.

Ao lado de António Pina, encontrava-se o presidente da Região de Turismo do Algarve, João Fernandes, que trouxe à tona os produtos turísticos da região, e que tiveram a oportunidade de alavancar muitos dos projetos desenvolvidos ao longo destes anos. A identificação do Algarve como um espaço de dinamização excêntrica também foi um dos valores atribuídos ao processo de candidatura, enfatizando a relevância deste investimento cultural para a região.

Como representante dos alunos e docentes da Universidade do Algarve, o Reitor Paulo Águas deu o seu parecer a nível educacional. A UAlg, para além entidade co-produtora, é também uma comunidade consumidora deste processo, tendo todo um corpo de membros ligado à cultura.

Juntamente com isso, o Presidente da CCDR Algarvia, José Apolinário também comentou sobre o desenvolvimento da indústria cultural. O investimento para as artes não implica somente o desenvolvimento direto das atividades, mas também todos os processos de preparação, organização e logística daqueles ligados indiretamente com o projeto.

 

Paulo Águas, António Pina, João Fernandes e José Apolinário

 

As opiniões populares

Todo o processo de criação e desenvolvimento da candidatura teve a sua base na visão dos cidadãos sobre a cultura algarvia. Ir ao encontro das pessoas foi talvez um dos incentivos mais fortes para o desenvolvimento de todos os projetos.

Estes foram alguns dos pontos que foram tratados por Vânia Martins, facilitadora do Faro 2027, que participou ativamente no processo de auscultação popular ao longo do processo. Outro fator importante que foi levado em conta pela colaboradora foi a questão desafiante que a pandemia trouxe.

Aliado a isso, a divulgação e o reconhecimento popular sobre o projeto também impactam no desenvolvimento deste. Responsável também por isso, a investigadora e bolseira da Universidade do Algarve Daniela Cabral buscou compreender não só as opiniões sobre a cidade, mas também as expectativas e percepções para o projeto.

Indubitavelmente, este é um processo cultural que tem seu Norte voltado à população algarvia, o que justifica a constante interação com as pessoas, e a produção de peças e projetos que tem seu objetivo voltado para o público.

 

Vânia Martins e Daniela Cabral

 

O envolvimento das entidades culturais

O processo ouvidoria popular permitiu que as próximas atividades a serem desenvolvidas fossem realizadas para cobrir os pontos frágeis da cultura na região. E este foi um dos assuntos tratados com muito entusiasmo pela Diretora Regional de Cultura do Algarve, a Professora Adriana Nogueira.

Adriana trouxe à mesa a voz e as questões colocadas pela falha cultural na região, e como a população muitas vezes não compreendia o motivo do investimento neste setor. A Diretora enfatizou que, a cultura como canalizadora do pensamento crítico, merece também a atenção que os outros setores da sociedade recebem.

E para este tipo de investimento ser aproveitado de maneira eficaz, é importante dirigi-lo a um plano estratégico para a cultura na cidade e na região, como explicou o Diretor do Teatro das Figuras Gil Silva. Esta precaução permite que os projetos executados ao longo do tempo tenham sempre recursos suficientes para serem mostrados ao público.

A criação de uma identidade cultural da região também faz parte deste plano, o que traz muito retorno para a população geral e para os envolvidos no processo. Para esta execução, é importante alcançar alguns objetivos, como citado por Gil Silva. O primeiro deles é o investimento no processo de formação profissional para os agentes e o público em geral. O outro fator é a consolidação do tecido artístico, que envolve o desenvolvimento desta imagem cultural da cidade.

É patente que este tipo de processo tenha de ser estimulado para o público em geral, mas também tem de ser trabalhado nas escolas para aqueles que são, de forma geral, parte do futuro do país, os jovens.

Dentro do plano de candidatura, foram desenvolvidos inúmeros projetos de influência para o setor educacional. Nas escolas, este processo é realizado como vertente a médio e a longo prazo, como afirma Ana Bela Conceição, Coordenadora Regional do Algarve e Alentejo litoral do Plano Nacional das Artes.

O Plano Nacional das Artes é uma das iniciativas que busca, de forma criativa, instigar os mais jovens a observar a escola como um Palco Cultural. Este projeto decorre de forma a unir, não só o setor educacional à cultura, mas também unir as escolas à sua comunidade envolvente.

 

Gil Silva, Ana Bela Conceição e Adriana Nogueira

 

Os avanços do processo

Conforme o passar dos anos, a estrutura da cidade e da região começou a mudar para evoluir como candidata à Capital Europeia da Cultura 2027. Estas mudanças também desvendaram novas formas de pensar sobre o mundo, e como estas novas ideias e influências poderiam agregar ao processo, como afirmou Tiago Prata, Gestor Cultural e membro da equipa Faro 2027, e também a Dra. Alexandra Rodrigues Gonçalves, diretora da Escola Superior de Gestão Hotelaria e Turismo na Universidade do Algarve.

 
 

Esta busca por absorver novas ideias foi um dos motivos que levou o processo a dar passos fundamentais para continuar a afetar positivamente a cultura algarvia. Ouvir e aprender com as pessoas passou a ser um exercício também para os projetos existentes, e não somente para os que estão projetados para o futuro.

Surgiram então as iniciativas voltadas ao feedback popular, como as Open Calls, sessões com o intuito de ouvir as novas propostas do público, em um ambiente apropriado para a cultura. Como explica a colaboradora do Faro 2027 Sofia Martins, o objetivo destas conversas era entender o que as pessoas esperavam para este setor, e trabalhar com estas sugestões nos projetos seguintes.

Esta abertura com o público foi uma das experiências que demonstrou esta nova forma da população apreciar a arte. A cultura mostrou-se como veículo de importância social tão relevante quanto os outros setores. Este tipo de valor, como explicou o Diretor Artístico da Companhia de Teatro do Algarve, Luís Vicente, foi adquirido depois de muito empenho em demonstrar que a cultura não é um meio dependente das outras estruturas da sociedade.

Outro fator muito trabalhado ao longo do processo é a diversidade cultural, não somente entre as regiões algarvias, mas também com a cultura internacional. Um dos projetos que mais exemplifica isso são as Cataplanas do Mundo, uma iniciativa que une a tradição algarvia com as heranças estrangeiras. Este projeto, explicado por Liliana Pereira, Coordenadora da Associação Doina, foi principalmente uma oportunidade de inserir os migrantes na cultura portuguesa.

O objetivo do Cataplanas do Mundo foi permitir que nacionalidades diferentes criem, utilizando ingredientes próprios da sua região, uma nova versão da tradicional receita algarvia. Os resultados foram as cataplanas Brasileira, Romena, Cabo Verdiana, Paquistanesa e Marroquina.

O processo de candidatura mostra que não pretende somente inovar a cultura de Faro e da região com as tradições portuguesas, mas que também está aberto à ideias exteriores, criando assim um novo patamar cultural.

 

Luís Vicente, Liliana Pereira e Sofia Martins

 

Encerramento da Celebração

Após ouvir as ideias, as experiências e os desafios ao longo destes anos de desenvolvimento, já era hora de celebrar o momento de apresentação do bidbook. Como um dos responsáveis pela conclusão do evento, Bruno Inácio, responsável pela candidatura de Faro à Capital Europeia da Cultura, mostrou-nos um pouco mais do processo e de como a cidade irá reagir daqui para a frente.

Ligado sempre ao conceito de “mergulhar” na candidatura, Bruno trouxe algumas reflexões sobre o desenvolvimento desta. Explicou que Faro estaria disposto a mudar a maré, e que a região do Algarve como um todo vai assumir o seu “papel de protagonista”, valorizando-se em primeiro lugar. Esta mudança social vem com o intuito de desafiar as fronteiras e os limites, e é esperado que desta forma, este processo que se iniciou em Faro e expandiu-se para toda a região irá crescer gradativamente.

Bruno Inácio reforçou ainda que esta mudança vai muito além da candidatura, e que Faro 2027 continuará a trabalhar e a desenvolver novos projetos independentemente do resultado.

 

Bruno Inácio

 

Estas também foram as palavras exprimidas pelo Presidente da Câmara de Faro, o Professor Rogério Bacalhau, que trouxe em seu discurso final o espírito de processo mais rico e mais impactante ao longo dos anos. Rogério Bacalhau ainda homenageia um dos grandes nomes da cultura farense, Joaquim Guerreiro, responsável pelo desenvolvimento de diversos projetos artísticos na cidade. A noite de celebração encerrou-se após a realização de uma fotografia para registrar este momento marcante para Faro.

 

Presidente da Câmara Municipal de Faro, Rogério Bacalhau

 

O processo de candidatura aguarda agora os resultados da 1ª fase eliminatória, que decorre no dia 11 de março. Os projetos realizados podem ser consultados no site do Faro 2027.


FONTE Make It Happen   FOTOGRAFIA Alexandra Farinho | Epopeia Brands™
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