Pedro Monteiro: “Panmania é uma metáfora: por vezes, é preciso lutarmos pelos nossos direitos. Se não lutarmos, ninguém o faz por nós - nem os partidos”

Panmania

"Panmania" estreia hoje, dia 27 de janeiro, pelas 21h30, no Teatro das Figuras.

E se numa noite - por ironia, tão perto do dia de eleições, o espetáculo fosse repentinamente interrompido, considerado um "vírus perigosíssimo, altamente contagioso e imoral", culminando na suspensão de todas as manifetações teatrais?
E, perante este "estado de sítio", dois obstinados atores continuassem clandestinamente a representar? Uma distopia nada longe deste tempo e mote de "Panmania", peça que conta com a produção do te-Atrito e do Teatro das Figuras; argumento, encenação e interpretação de Pedro Monteiro; vídeo e interpretação de André Canário; vídeo, fotografia, design gráfico, operação de vídeo e som de Ana Brandão, e figurinos e guarda-roupa de Filipe Corre.

Estávamos em 2020, no rescaldo da pandemia, quando começou Panmania: "nesse ano, a Câmara de Faro e o Teatro das Figuras idealizaram um projeto para apoiar grupos locais. Houve uma residência artística, na qual se começou a criar. A peça seria para vir a público em 2021, mas houve um pequeno atraso e acabámos por estrear apenas agora", diz-nos Pedro Monteiro, argumentista e um dos intérpretes de Panmania.
Questionado sobre o possível contraponto entre o argumento de Panmania e os sintomas de desatenção política e social ao setor da Cultura, Pedro reflete: "a maioria das pessoas que faz Teatro sabe que é uma atividade difícil no sentido da permissão de sobreviver, criar e produzir – todas coisas que precisam de dinheiro. Por um lado, toda a gente partilha a ideia da Cultura e das Artes como necessárias para que estejamos todos bem, mas depois, na prática, não assistimos muito a esse apoio, a essa divulgação, a essa formação - e, evidentemente, não falo apenas por quem faz Teatro."

"Mesmo sem condições, há que continuar a fazer Teatro"

​Apesar da interdição - ou justamente por causa dela, há o outro lado, o reverso, o mundo clandestino, em que dois atores continuam a interpretar, à socapa. Será este 'clandestino' uma metáfora para a Arte como resistência? Pedro faz-nos reparar: "a peça é toda uma metáfora: por um lado, porque mesmo sem condições, há que continuar a fazer Teatro - e isto é algo que quem faz Teatro sabe. Aliás, o Teatro não se faz apenas em salas altamente equipadas; também se faz nas ruas, nas praças, em pequenas salas ou associações. Por outro lado, é uma metáfora porque sabemos que, por vezes, precisamos de lutar pelos nossos direitos. Se não lutarmos, ninguém o faz por nós - nem os partidos. Panmania tem a ver com isso, e, por coincidência, estreia em véspera de eleições."


FONTE Make It Happen   FOTOGRAFIA Ana Brandão
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