Algarve para Todos
O fator chave passa pela formação, já estamos todos muito sensibilizados, agora falta sabermos como agir, como fazer.
Reflexão sobre as dificuldades que uma pessoa com deficiência atravessa no Algarve.
Para falar deste tema precisamos voltar atrás na história, e muito atrás. A verdade é que as grandes alterações ao conceito ou à definição do que é uma pessoa com deficiência estão ligadas sempre a momentos da nossa história. Até há bem pouco tempo, a deficiência para a maioria das pessoas era causada por questões do foro espiritual, eram crianças amaldiçoadas, eram vistos como “castigados”, e como tal eram isolados do mundo e, em alguns casos, até da própria familia. Só no século XIX é que começaram a ser feitos progressos no âmbito das descobertas ao nível da biologia e medicina humana.
Pois bem, como todos sabemos, Portugal não é o mundo, tivemos anos e anos de ditadura que nos travaram drasticamente a todos os níveis, e como tal estes avanços ao nível da inclusão foram praticamente inexistentes. É também um facto que o Algarve não é bem Portugal em muitas áreas, sabemos que o investimento virado para o turismo em massa, principalmente para o turismo internacional, fez com que o investimento na área da saúde e da inclusão fosse praticamente esquecido desde os anos 70. Foram feitas obras completamente inacessíveis, hotéis, apartamentos e urbanizações totalmente intransitáveis para uma cadeira de rodas, por exemplo. O trabalho desenvolvido pelas ONG’s e IPSS do Algarve começou maioritariamente nos anos 80, e muito direccionado para a saúde mental.
Atualmente, as entidades parecem mais sensibilizadas para a inclusão, contudo não sabem como o fazer, não se formam e quando tentam replicar com base em boas práticas acabam por criar soluções complexas, demasiado complicadas ou obsoletas. É certo que o factor chave passa pela formação, já estamos todos muito sensibilizados, agora falta sabermos como agir, como fazer. É este o principal problema das pessoas com deficiência no Algarve, deparam-se constantemente com pessoas, locais, entidades que não sabem como agir, que não foram educados para a Inclusão. É urgente rever a nossa política inclusiva, e isso passa por rever a forma como os investimentos são feitos, sejam eles físicos ou estruturais. Não podemos continuar “convencidos” de que estamos a fazer bem porque estamos a cumprir a lei, a lei tem falhas, lacunas e omissões, e deve ser sempre complementada com bom senso. A solução deve partir do pressuposto de encararmos as pessoas com deficiência como pessoas e não como números. Cada uma destas pessoas tem uma vida, um contexto social e problemas sociais diferentes, como tal, devem ser tratadas de forma individual e sempre tendo em vista a sua inclusão na sociedade.
O Algarve precisa de acordar, é urgente trabalhar as comunidades, e uma comunidade não são apenas bairros, pessoas ou atividades, as comunidades somos todos nós. E a Inclusão é para Todos!
FONTE Nuno Miguel Neto FOTOGRAFIA Nuno Miguel Neto