Dela Marmy: “Quando acontecer alguma coisa que nos iniba o tempo, acontece e pronto. Se calhar, temos de abrandar”

Dela Marmy

Dela Marmy – assim se chama o projeto a solo de Joana Sequeira Duarte, que sobe ao palco da Sala Morcego do Festival *SIGA*, já na próxima sexta-feira, dia 19 de novembro, pelas 23 horas. Em conversa com a Make It Happen, Joana fala-nos sobre o seu percurso artístico, sobre o seu mais recente EP – "Captured Fantasy", editado a 27 de março de 2020, sobre o que a encanta e dá polpa às suas composições.

Antes de Dela Marmy, Joana integrou, entre 2011 e 2017, a banda The Happy Mess, na qual à voz juntou os sintetizadores. No seio deste grupo, participou na criação do álbum de estreia, o Songs From The Backyard (2013), e ainda no álbum Half Fiction (2015).

Ainda nos The Happy Mess, Joana vinha compondo e guardando alguns temas, os quais, sentia, “tinham um caminho diferente”. Foi no momento em que decidiu deixar a banda que percebeu que as canções fariam sentido num projeto a solo, o que se conciliou com a “vontade de experimentar o que era estar sozinha em vez de um grupo. De ir mais ao encontro daquilo que era a minha linguagem estética, performativa e de composição”, culminando então em Dela Marmy. Desse primeiro grupo, ficou a herança dos sintetizadores que agora a acompanham neste projeto a solo, e que têm uma relação direta com o piano, instrumento que estudou durante 12 anos.

Além da música, Dela Marmy distingue-se pelo teor multidisciplinar, ao harmonizar-se com outras áreas artísticas – performativas e visuais. Questionada sobre a importância que assume este eixo entre a performance, a dança e a música, Joana reflete: “Eu vejo sempre a Arte num todo e não em partes individuais. Eu estudei Artes Visuais, Arquitetura, Dança e Música, e há aqui uma ligação muito forte. É claro que o eixo central aqui é a Música, mas, para mim, ele não faz sentido se eu não estiver envolvida com uma capa, com um artista, um vídeo ou dança. No fundo, é tentar exportar para o mundo exterior aquilo que eu sou e aquilo em que acredito, transpondo tudo isso para o meu objeto artístico.”

Em “captured Fantasy”, cada tema está associado a cada um dos cinco sentidos – uma relação que surgiu posteriormente à criação dos temas, os quais “têm sempre a ver com esta presença do corpo no mundo e da sua relação com o mundo. A forma como nós nos apropriamos e sentimos o mundo. Os sentidos são esse primeiro contacto com o exterior. A certo momento, não conscientemente, comecei a aperceber-me de que as canções estavam ligadas aos vários sentidos, umas mais a um, outras mais a outros.” Apesar deste particular teor sensorial de "Captured Fantasy", a verdade é que “o corpo, os sentidos, o mundo, a relação com o planeta, a relação com os outros, a relação com eles mesmos, esta espécie de existencialismo, de dúvida sobre o que é que nos faz acordar todos os dias, quais é que são os nossos objetivos, os nossos sonhos, o que é que nos motiva” são temas transversais ao lírico que encontramos nos temas de Dela Marmy.

"​Captured Fantasy" funcionou ainda de âncora de colaboração com outros artistas, nomeadamente a escritora e poetisa Raquel Serejo Martins, Peter Kember e Tytun. A primeira, por se tratar de uma “amiga de infância, e com uma escrita com a qual me identifico muito. Fez sentido aproveitar esta relação com ela e trazer para o projeto estes laços importantes com o exterior, com o mundo. Convidei-a, e ela escreveu.” Já Peter Kember, músico britânico dos outora Spacemen 3, foi responsável pelo remix “Old Human – Sonic Boom Remix”: “Eu convidei-o, ele aceitou de imediato, com a condição de ter total liberdade. E acho que correu muito bem.” Kember tem participado na produção de álbuns de diversas bandas internacionais enquadradas no Indie ou no Rock Psicadélico, das quais são exemplo MGMT, Beach House, Yo La Tengo e Panda Bear, bandas de referência para Dela Marmy. Por sua vez, é do País de Gales chega-nos TYTUN, o qual colaborou no tema “Take me Back Home", uma colaboração que nasce da antiga e presente “vontade de trabalhar o hip hop e o rap”. Desta fusão entre as proeminências do Indie com o rap nascem sonoridades híbridas que tornam difícil a rotulação da música de Dela Marmy num só género - autenticando-a.

Planos para o futuro? Dela Marmy deixa-nos com este pensamento: “Ainda não sei bem para quando, mas estou a preparar um próximo LP. Sinto que tenho de ter tempo para o fazer. Para olhar para ele. Com calma! A pandemia trouxe este pensamento: não é um fatalismo quando as coisas afinal não acontecem amanhã, como os concertos que eram para ter decorrido em 2020, mas que não decorreram. Quando acontecer alguma coisa que nos iniba o tempo, acontece e pronto. Se calhar, temos de abrandar um bocadinho e parar com esta ideia de que tem de ser tudo a correr e para o dia seguinte. Temos de dar tempo.”


FONTE Ana Rita Rodrigues   FOTOGRAFIA Dela Marmy
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