Todo o mundo quer ser bem resolvido, por Andrei Serotini
Você provavelmente conhece alguém alegre e satisfeito. Aquele que todos querem por perto. Uma pessoa que emana energia pura e tranquila quando chega no ambiente e que desperta a atenção pelas coisas que faz e fala.
Talvez esse alguém seja sua avó, o porteiro, ou até você mesmo! Em todo o caso, estes são os “bem resolvidos”. São os que dominaram, para Aristóteles, a arte do viver. A filosofia de Aristóteles é, sobretudo, observação da natureza. O filósofo dava suas aulas sempre andando por aí e chegou a catalogar centenas de plantas e outras espécies de seres vivos. Portanto, na altura em que pensou sobre a felicidade ou como viver a vida, chegou a conclusão de que se há um imperativo ou princípio máximo a ser colocado em prática, ele deve ser extraído da própria natureza, da qual somos parte.
Aristóteles foi arrebatado pela magia que há no perfeito funcionamento de tudo que nos cerca. Notou que toda e cada simples vida cumpre uma função (que chamou de "Ergon").
Esse propósito determinado de todas as coisas é bom ou mau na medida que se cumpre. Ou seja: se uma macieira não dá maçãs, alguma coisa resultou mal. Definitivamente, não se trata de uma vida no seu ápice.
É preciso, portanto, aplicar o pensamento a nós. Afinal, somos seres vivos, como a macieira, mas portadores de outros mecanismos que nos permitem pensar no nosso próprio funcionamento, por exemplo.
E a melhor maneira de funcionar, para Aristóteles, é conseguir agir de acordo com a natureza, cultivando a virtude.
Nesse sentido, rompeu com seu grande mestre, Platão, e sua teoria do mundo ideal supra sensível. Para Aristóteles, o nosso mundo é suficiente e a perfeição está ao alcance de cada um de nós, através de uma vida virtuosa e harmoniosa -assim como havia observado em toda natureza-. Mas é preciso "ralar"...
Em primeiro lugar porque não nascemos virtuosos. É preciso tornar-se. Fazendo, aprendemos: o filósofo acreditava na sabedoria da ação. “Nos tornaremos corajosos praticando ações corajosas".
Em segundo lugar, não é tão fácil encontrar a virtude em algumas situações. Mas em "Ética a Nicômano", Aristóteles entrega o tesouro: A virtude está no meio termo entre dois extremos. São os vícios: de um lado a deficiência, do outro o excesso. No meio, o ouro. Água de menos, seca. Água de mais, encharca. Mesmo a coragem, se muita, torna-se imprudência.
Habitaremos o estado do gênio se vivermos de acordo com a virtude. Se realizarmos nossa excelência pelo esforço contínuo. É a tal "Eudaimonia".
Hoje em dia, a felicidade é coisa momentânea que representa um estado geral de bem estar, "Eudaimonia" é muito mais: é a plenitude da vida. É a macieira frondosa e carregada de maçãs vermelhinhas e suculentas.
A beleza da árvore, aplicada aos seres humanos, é alcançada pelo exercício continuo de sentir que estamos vivendo nossa melhor versão.
Afinal, para ter um sono de urso, é preciso cair na cama a noite se sentindo em paz (quer melhor definição para sucesso?). É preciso ter contribuído com o melhor de si. Dia após dia, um por vez.