Francisco Orelha e “a planície, o mar, o sol, a natureza e a alma do Ser alentejano”
Francisco Orelha lançou recentemente o seu segundo livro, intitulado de “Pensar”. Tal como o nome indica, este livro, embora de leitura leve, aborda temas de peso que fazem o leitor questionar-se sobre si mesmo e sobre o que o rodeia. Francisco Orelha dá ao leitor as suas reflexões sobre o que viu durante a vida. Este homem com quem conversamos já foi presidente da Câmara Municipal de Cuba, presidente do Sporting Clube de Cuba e esteve ligado a variadíssimas associações.
O que diria se, em jovem, lhe dissessem que aos 70 anos teria dois livros publicados?
Diria que a vida é feita de momentos, e que devemos aproveitar todos eles para aprender e ensinar. O equilíbrio faz-se com a irreverência e com a experiência. Nunca é tarde, a vida é uma aprendizagem constante: escrever, pintar e amar não têm hora marcada, acontecem!
Com a idade vem o conhecimento e toda a experiência. São estes dois alicerces que se refletem no seu novo livro de pensamentos. Quando começou a registá-los?
Pensar faz parte do nosso quotidiano, qualquer ser vivo racional pensa, é lógico que qualquer ser humano também pensa, são os pensamentos que nos transportam pela vida, em todas as circunstâncias. Pensar não tem idade. Este meu livro "Pensar" é uma recolha de pensamentos espalhados no tempo.
E o que o leva agora a partilhá-los?
Devemos partilhar tudo que nos sobra. A humildade torna o homem grande, ocultar o saber torna o homem insignificante.
Não se questionou sobre a hipótese de, ao publicar algo tão íntimo e profundo, se estar a expor demasiado?
Apesar de falar na primeira pessoa, os relatos ou pensamentos em “Pensar” não são actos por mim praticados. São um conjunto de pensamentos que pela sua diversidade se identificam com muitos e de muitas gerações, embora muitos também se identifiquem com os meus actos, porque também sou gente, e tenho paladar. Também porque todas as idades têm o seu encanto, quem completou setenta já passou pelos vinte!
O Alentejo é a sua terra. Para sermos mais precisos, Cuba é a sua terra. Já se questionou sobre como seria se tivesse nascido e crescido fora deste Alentejo que tanto adora? Foi esta terra que o inspirou?
Cuba é o meu berço. Aqui nasci, aqui quero morrer, mas o que me inspirou foi também a planície, o mar, o sol, a natureza e a alma do Ser alentejano, e assim quero continuar a ser hoje e amanhã!
Vamos admitir que temos alguns pensamentos de eleição no seu livro, e que um deles é dos mais curtos mas que nos fez pensar durante um longo tempo. “Se tiver sardinhas à mesa / Cuide do seu gato” é o pensamento a que nos referimos. Fale-nos um pouco sobre estes dois versos que tanto nos dizem e sobre esta capacidade de ser tão simples e dizer tanto.
Cada um deve interpretar cada pensamento. Se não, não vale a pena ler o livro. Tem de perceber e interiorizar como seu. “Cuide do seu Gato” - cuide de tudo o que o rodeia, e terá certamente muita matéria para debater, como em todos os outros pensamentos!
Acreditamos que este livro de pensamentos vai ao encontro de um público mais maduro e consciente. Concorda connosco?
Os hábitos de leitura não têm idades, são como a pintura: ou se gosta do pintor ou não.
Quais os próximos passos? Depois da apresentação na sua terra natal, vamos ter o livro "Pensar" em digressão?
Talvez na Biblioteca José Saramago, em Beja, e na Casa do Alentejo.
Sente que já chegou a altura de baixar a caneta ou podemos contar com novos trabalhos criativos?
Gostava de não baixar a caneta! Já tenho um novo trabalho em curso, que tem como título “Mariana”.