A Fábula do Esquilo que quase apanhou CoViD-19

Era uma vez um esquilo que vivia com muitos outros animais numa árvore do bosque. Este esquilo era muito trabalhador, passava os dias inteiros a recolher todo o tipo de alimentos para que nunca lhe faltasse nada. Recolhia tanto que chegava até para alimentar os outros animais da árvore.

O seu melhor amigo era um pica-pau. O pica-pau não colhia tantos alimentos como o esquilo, mas visitava todo o bosque, oferecia ajuda a todos os animais, conhecia-os um por um sem excepção, desde o caracol até ao javali, passando pela serpente que ninguém gostava.

O pica-pau era amigo de todos, até mesmo da serpente que todos temiam, sabia bem as necessidades de cada um, ajudava-os a fazer as suas tarefas sem olhar ao tempo e era sempre tarde quando regressava à árvore e partilhava com o esquilo todas as aventuras do seu dia.

O esquilo ouvia-o por horas a fio, era impressionante a quantidade de animais que o pica-pau ajudava! Dava muita esperança ao esquilo saber que existiam assim animais tão bons. E, depois de tantas histórias, lá iam dormir, mesmo ao lado do casal de pintassilgos que tinha acabado de ter dois filhotes que não davam descanso, ou com os morcegos e outros animais que saiam à noite para caçar.

O esquilo não se importava, adormecia com o amigo pica-pau ali perto, sabendo que tinha a quem recorrer.

Um certo dia de outono, o pica-pau chegou bem mais cedo, trazia más notícias! Parecia que havia uma doença, que não se sabia bem como tinha chegado ao bosque, mas que era muito grave! Uma doença que diziam vir de muito longe, da Ásia! Era um vírus que deixava todos os animais cansados, sem conseguirem respirar e que podiam passar uns aos outros mesmo sem saberem se estavam ou não doentes. Sem saberem o que fazer, chegou a palavra ao bosque que era preciso que todos os animais ficassem quietos Não podiam caçar, nem fazer a vida deles. Os animais com algum medo, lá acataram a decisão, mesmo sem saber quem mandava ao certo. Quando veio o boato que já podiam sair, o mocho do alto da árvore, berrou:

- Ninguém sai assim à parva! Estão doidos? É preciso regras.

E o mocho saiu e todos os dias voltava com novas regras. Primeiro não podiam sair ao mesmo tempo, depois não podiam ir caçar para muito longe, e claro que tinham de sair sempre sozinhos.

O pica-pau, percebendo as dificuldades que as regras criaram, começou a ajudar ainda mais animais. Não havia mãos a medir! Faltava comida, muitos animais não sabiam o que fazer, outros morreram com a doença. Mas o pica-pau nunca recusou ajudar ninguém. Até que um dia, o pior aconteceu, o pica-pau apanhou a doença! Com medo de contaminar o seu amigo esquilo e os outros animais da árvore, o pica-pau achou que o melhor era que os animais da árvore não falassem nem se juntassem com mais animais até ter a certeza de que todos estavam bem, e sem a doença.

O mocho assim que soube o que o pica-pau tinha feito ficou muito enervado e foi gritar com o pica-pau! Berrou tão alto que todos ouviram... Não podia ser! Chamou-lhe tudo, desde medricas a irresponsável, mas o pica-pau disse que tinha feito o melhor, que é melhor prevenir do que remediar.

O mocho disse que isso não era importante, o importante era que o Mocho é que mandava, e sem ele ordenar o pica-pau não tinha o direito de ter definido regras preventivas! Nisto o mocho decidiu sair disparado para ir chamar o urso para lhes dar uma lição. Contudo, quando voltou, não trazia o urso. O esquilo, na sua inocência, perguntou:

- Então não ias buscar o urso ó mocho? Não nos vinha dar uma lição? Que aconteceu?

O mocho com ar enfadonho respondeu:

- Não pode vir, está com CoViD.

Moral da História: Quem não sabe o que fazer, e quer nos outros mandar, acaba sempre por perder, uma boa chance de se calar.


FONTE Nuno Miguel Neto FOTOGRAFIA Nuno Miguel Neto
Nuno Miguel Neto

Nuno Miguel Neto cresceu desde sempre ligado à temática da Inclusão, devido ao fato de ter um irmão com Spina Bífida uma deficiência neurológica, sempre esteve sensibilizado para esta causa. Licenciou-se em Arquitetura e desde aí apercebeu-se que antes de construir mais era preciso sensibilizar. Começou a trabalhar na APEXA - Associação de Apoio à Pessoa Excepcional do Algarve, como voluntário trabalhou na sensibilização especializando-se em Acessibilidades.

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