Sarah-Louise Koessler: “com um software chamado clo3D, é possível experimentar e construir fatos à escala no computador, reproduzindo costuras, cores e texturas”
Sarah-Louise Koessler, metade francesa, metade inglesa, é designer de moda. Formou-se recentemente com um BA (Hons) em Design de Moda com Estudos Empresariais na Universidade de Brighton, Reino Unido. Cria peças de moda únicas que fazem com que a pessoa que o veste se sinta empoderada. Sarah-Louise mudou-se recentemente para o Algarve e espera poder colaborar com os criativos locais.
Quando é que pensaste tornar-te designer?
Tudo começou numa aula de arte na escola em França, quando tinha 16 anos. Tivemos um briefing muito aberto sobre um projecto onde podíamos escolher um artista e usá-lo como inspiração para criar uma peça de arte. Foi então que descobri a cantora Björk e os seus incríveis figurinos. Fui inspirada a fazer uma escultura iluminada de um vestido. Foi, sem dúvida, uma revelação para mim. Passados dois anos, já com 18, mudei-me para Londres para prosseguir nos meus estudos e comecei por ficar um ano numa fundação de Arte & Design. Sempre tive interesse pelas áreas, mas, na altura, hesitava entre design de moda e interiores. Esse ano de fundação reforçou realmente a minha paixão pela moda e pela arte vestível.
O Algarve é a bela costa a Sul de Portugal. É uma região abençoada, com praias deslumbrantes, cidades piscatórias encantadoras e um clima glorioso. Achas que tens aqui uma grande oportunidade de sucesso? Quais são os seus planos e projetos em Portugal?
A vida atraiu-me para aqui, pois os meus pais apaixonaram-se por esta bela região, venderam tudo em França, e mudaram-se para cá permanentemente. Espero radicar-me aqui, em Portugal, colaborando com artistas locais. Tenho vindo a montar o meu estúdio em casa, e com isso surgem os desafios de encontrar manequins e maquinaria de costura industrial. Para financiar-me, estou a dar aulas de conversação online em francês e inglês no Italki. Procuro colaborar e promover talentos locais, como fotógrafos, modelos, outras marcas (por exemplo, fatos de banho ou jóias), locais de topo de gama. Estou actualmente a trabalhar num projecto com um jovem fotógrafo de moda em Faro, Ivan Baptista, e fomos incrivelmente honrados, esta semana, por nos ter ser permitido organizar uma sessão fotográfica na Pousada Palácio em Estoi, perto de Faro.
Estou actualmente a desenvolver dois aspectos do meu negócio. Em primeiro lugar, criar sacos e tops a partir de restos de tecidos da minha colecção. Os tops serão uma linha de difusão da minha actual colecção de peças mais vestíveis e prontas a usar. Continuarei também a criar peças por medida e a mostrá-las. Gostaria de chegar à indústria do entretenimento; o sonho absoluto seria que alguém como Lady Gaga usasse os meus desenhos. Devido à situação atual, venderei principalmente online, promovendo localmente, com as possibilidades de expor em espaços luxo. Também pretendo utilizar as minhas capacidades de marketing de moda online para promover não só o meu próprio negócio, mas também para actuar como consultora de marketing para outros estilistas e agentes criativos. Por exemplo, marcas de roupa de banho, joalharia e acessórios. Estou a ajudar as empresas locais a desenvolver e trabalhar nos seus meios de comunicação social, concentrando-me nas suas estratégias de marketing online. Vou ajudá-los a aumentar a sua presença online caso surja uma segunda quarentena. Os modelos de negócio actuais estão a mudar, e as empresas estão a ter de adaptar-se. O mundo da moda está a mudar. As marcas tiveram de pensar fora da caixa para mostrar as suas novas colecções, com muito mais a acontecer online.
Por que escolheste a Universidade de Brighton? Conta-nos um pouco sobre o tempo que passaste lá e sobre as colocações nas universidades no Reino Unido e em França.
Optei por estudar na Universidade de Brighton por ser classificada como uma das melhores no que diz respeito ao Design de Moda. É também um dos únicos cursos a incluir na licenciatura estudos de economia e de design. Esse é um aspecto muito importante pois, se se fizer roupas bonitas sem saber-se como comercializá-las, é muito pouco provável que se tenha sucesso no mundo superlotado da moda. O curso é muito prático, com profissionais da indústria a ensinar-nos. Fiquei impressionada com as instalações e apaixonei-me pelo carácter da cidade com a sua atmosfera criativa e liberal. Fui também atraída pelas perspectivas de um ano de estágio em Sandwich, onde fui seleccionada para um estágio na Ralph & Russo (Londres) e na Adeline Zilliox (Estrasburgo, França). Foi uma experiência que me abriu os olhos, pois pude mergulhar na indústria da Moda e rapidamente me confiaram tarefas importantes. Quando estagiei na Ralph & Russo fui enviada para o showroom de Paris para gerir uma pequena equipa de estagiários e representar o Atelier de Londres. Aprendi algumas competências inestimáveis durante esse ano.
Tiveste a oportunidade de mostrar o teu trabalho na Graduate Fashion Week, a maior montra de talentos da BA Fashion no mundo e que apoiou os estudantes e ex-alunos mais criativos e talentosos de todo o Reino Unido.
A Graduate Fashion Week é o evento para o qual todos os graduados trabalham e sonham em ser seleccionados para mostrar o seu trabalho na passarela. Infelizmente, devido à pandemia, o evento de Junho teve de ser cancelado, esmagando, por sua vez, os sonhos dos graduados. Felizmente, a Graduate Fashion Foundation está empenhada em ajudar os estudantes graduados. A GFW foi assim reorganizada, de uma forma diferente, em Setembro. Haviam showrooms, exibições de portfólio e um vídeo promocional online. Eu estava destinada a assistir aos eventos mas, infelizmente, o Reino Unido pôs em prática medidas de quarentena para pessoas vindas de Portugal alguns dias antes de ir. Fiquei muito frustrada, mas, ao mesmo tempo, muito honrada por ter sido seleccionada para participar no vídeo promocional da GFW publicado no website da London Fashion Week. Felizmente, o vestido apresentado tinha sido guardado na casa do meu tutor no Reino Unido. E ainda tive a oportunidade de exibir o meu portfólio durante o evento.
“o meu objectivo é criar peças de espectáculo que façam a pessoa sentir-se capaz, confiante e especial. Criando uma experiência para quem as veste”
Onde vais buscar inspiração para os desenhos, quem te influencia? O que pretendes alcançar com os teus desenhos? Acreditas que no futuro o teu trabalho possa criar uma tendência?
As minhas principais influências em termos artistísticos são Delpozo pela sua utilização de formas simples com guarnições adicionais, Simon Rocha e Viktor&Rolf pelas suas referências históricas de vestuário reinterpretadas de uma forma moderna, e Gareth Pugh pelos seus desenhos altamente estruturados. A minha colecção, "Esta, Madame, é Versailles", posiciona-se no mercado juntamente com designers como Gareth Pugh, Moschino ou Viktor&Rolf como potenciais concorrentes, mas diferencio-me através do meu uso de cores e tecidos. A minha colecção é perfeita para celebridades de tapete vermelho, e ambiciono que as minhas criações sejam usadas por estrelas pop como Rita Ora, Miley Cyrus, Paloma Faith e, acima de tudo, Lady Gaga. O meu objectivo é criar peças de espectáculo que façam a pessoa sentir-se capaz, confiante e especial. Criando uma experiência para quem as veste.
Como imaginas o teu futuro nesta indústria? Onde te vês daqui a 10 anos?
Hoje em dia é difícil para os estudantes de moda formarem-se e planearem os 10 anos seguintes. A indústria da moda está a mudar imenso, e as empresas tiveram de adaptar-se. Infelizmente, muitas pessoas estão a perder os seus empregos. Quero formar-me em desenho de vestuário 3D. Com um software chamado clo3D, é possível experimentar e construir fatos à escala no computador, reproduzindo costuras, cores e texturas. E podemos expô-los em movimento, através de passarelas virtuais. Uma técnica que realmente me fascina! Temos de repensar novos modelos de negócio e mudar para uma era mais digital. Sinto-me muito sortuda por ter a oportunidade de viver o meu trabalho de sonho de criar a minha própria marca. A moda é uma indústria muito competitiva e dura. Ainda mais agora! E é preciso amar realmente o que se faz ou não se vai conseguir. Pessoalmente, não me importo com todas as horas que dedico ao meu trabalho. É a minha paixão. Aprendi que, com todas estas mudanças, é impossível prever as oportunidades e os desafios que nos confrontam. Por isso, é preciso ir em frente!