Pessoa Luna Park: “por que não apostarmos num formato que possa reanimar temporariamente espaços abandonados, sub-utilizados e degradados?”

Ao percorrer as ruas de um lugar aleatoriamente escolhido, apercebemo-nos de uma identidade urbana que é, como as demais, mutável, marcada por contínuos e mais ou menos efémeros processos de substituição e regeneração - dos seus usos, das comunidades que aí se formam e da memória criada, e dos ritos que as identificam, ritos nossos, ritos que contribuem para uma tal sensação de pertença a um espaço que é também ela metamorfose; das políticas que a afectam, a tornam plástica.

Como se a terra fosse finita, inebriados por esse mito assistimos passivos às demandas de uma construção desenfreada, que ocupa essa terra e dá mais tarde lugar ao desabitado, ao inutilizado, ao degradado. São danos no espaço que resvalam por essa tal sensação de pertença, pela memória colectiva dos que a habitam.

Questionamo-nos, pois: nesta cidade-palimpsesto, tecida por camadas onde permanentemente se reinscreevem novos usos, quando as ruas se mantêm mas os espaços são já outros, o que acontece a essa sensação, a esse senso de comunidade? Como convive ela com a diferença e mutação de um espaço? A pensar nisso, e para fintar esse olhar passivo diante do dano, foi em 2013 que nasceu Pessoa Luna Park, projecto que vem trabalhando de forma itinerante espaços urbanos,  com vista à sua reutilização e edificação de centros temporários de experimentação colectiva, “que combinem a vocação cultural, social, educacional e recreativa com a imagem de uma cidade sustentável”. Um projecto que anda então de mãos dadas com as premissas da ecologia, no sentido de promover o uso circular de um espaço, a inovação, a  promoção cultural e a cidadania activa: são espaços abandonados ou degradados que como Fénix renascem e viram pontos de encontro aos quais a comunidade é chamada a experimentar e a recriar, recuperando, quiçá, esse senso de comunidade porventura danificado pela degradação do espaço.

A Ana Rodrigues e a Renata Pisanti conversaram com Azzurra Galeota, Presidente do Pessoa Luna Park.  A entrevista foi realizada em italiano e posteriormente traduzida desse original para inglês, pela Renata, e daí para português, pela Ana.


Renata - Como surgiu a ideia de um projecto baseado em “Diversão Itinerante”? 

Azurra - O grande mal-entendido é pensar que se trata apenas de um parque de diversões, mas lá chegaremos, porque foi de propósito que o criámos. Na verdade, o projecto nasceu de uma necessidade bem simples: há muitos anos que procurávamos um espaço onde pudéssemos colocar este centro de produção artística e cultural. Deparámo-nos até com casos de utilização ilegal e não autorizada, até porque precisávamos de grandes espaços, grandes barracões e armazéns. Talvez estivéssemos um pouco desesperados. No entanto, havia muito que nos interessávamos por bens em desuso e abandonados, em áreas sub-utilizadas, e, uma vez que já tínhamos feito um pequeno mapeamento por uma questão de interesse pessoal, pensámos: "por que não apostarmos num formato que possa reanimar temporariamente espaços abandonados, sub-utilizados e degradados?" Através de um sistema que não seja apenas um "tout court" de reabilitação, porque apesar de este eventualmente melhorar um espaço de forma imediata, não introduz um ecossistema para uma nova utilização desse espaço – pelo que não introduz um novo sistema de cuidados nem confere uma ideia de como esse espaço pode ser experimentado.

Desenhamos bigodes sobre as coisas e transformamos espaços esquecidos em pequenas utopias situadas. (...) Nalguns casos, trata-se de inaugurar novas formas de experimentar temporariamente espaços.

Assim, pensámos em apostar neste formato porque é itinerante, de inovação cultural e regeneração urbana. Dizemos que "desenhamos bigodes sobre as coisas e transformamos espaços esquecidos em pequenas utopias situadas" – o que é, na verdade, o que fazemos. Num espaço de tempo muito curto, muitas vezes um mês, conseguimos transformar um bem público que esteja num estado realmente degradado num lugar imaginado, e a referência a parques de diversões está lá sobretudo pela atmosfera criada – pelo facto de serem itinerantes e brilhantes. No entanto, reinterpretamos a luminosidade como uma forma de colocar na ribalta espaços que tenham enorme potencial e que na realidade também podem ser utilizados como ferramentas ágeis, porque a arquitectura temporária e os projectos temporários são capazes de fazer o que mais ninguém consegue, porque têm tempos e métodos muito mais eficientes.

Renata – Podes falar-nos sobre o “atrás das cenas” e as raízes / a origem do Pessoa Luna Park?

Na minha opinião, as raízes profundas partem da forma como a equipa é constituída, porque somos um colectivo atípico e muito heterogéneo. Muitos pensam que somos todos arquitectos, mas a verdade é que não há arquitectos entre nós. Ou, melhor – há na equipa de estudantes de doutoramento e investigadores que nos apoiam, com os quais também realizamos projectos; contudo, a verdadeira pedra angular do projecto é o facto de haver muita heterogeneidade. Por exemplo: eu tenho uma formação filosófica e, como venho de um ramo da filosofia particularmente prático e aplicado, senti realmente a necessidade de transformar os meus estudos sobre espaços; a visão em algo concreto. Por conseguinte, Pessoa Luna Park foi e continua a ser um dispositivo. Parte da equipa é também constituída por advogados que lidam com a mediação administrativa. Aqui surge toda a questão, que é talvez aquela com que lidamos muito mais do que as pessoas possam pensar: a relação com as administrações públicas. Nalguns casos, trata-se de uma questão de inaugurar formas de experimentar temporariamente espaços. As pequenas cidades não estão habituadas a isso, não sabem como fazê-lo e têm mais complicações no que toca a compreender o que é o temporário. Por seu turno, Nápoles, por exemplo, é uma cidade um pouco à frente nessas questões.

Há também um artista entre nós, mas, na verdade, todos nos sentimos verdadeiramente dedicados à arte contemporânea – tanto pela linguagem que usamos como pelas colaborações que estabelecemos. Nos bastidores de todo o nosso trabalho há certamente muito esforço a ser feito: há uma dimensão operária muito forte, além da que concerne ao design. Somos planeadores, participamos em concursos e, por isso, há todo esse processo de escolha de concursos, gestão, relatórios e todas as coisas chatas que têm a ver com a economia, mas há também muito trabalho puramente manual: a limpeza e regeneração de espaços envolve acções físicas, é preciso sujar as mãos. Por isso, trabalhamos arduamente nos locais (e perdemos muitos quilos!). Também fazemos o antes e o depois no nosso corpo! (risos).

 

Pessoa Luna Park | Nápoles, Setembro de 2022

 

Ana - Ecologia, Inovação e Promoção Cultural são os três principais vectores deste projecto. Por que são eles importantes no que diz respeito à requalificação urbana, e como é que são eles evocados durante as vossas actividades?

Estes vectores são importantes porque correspondem às três línguas contemporâneas mais urgentes e não podem viajar sozinhas. Somos forte e deliberadamente interdisciplinares: para nós, não há disciplina que possa passar sem outra. A relação entre inovação, tanto tecnológica como social e cultural, a arte – sobretudo a arte contemporânea, mas também o cinema (não desprezamos nenhum tipo de linguagem), é uma forma de garantir que um espaço possa ser um bom equilíbrio de ecossistemas: um ecossistema no qual falemos apenas de ecologia não faz sentido, porque ninguém o visita. Em vez disso, as várias atracções, que passam desde eventos culturais ou dispositivos relacionais como os jogos, são ferramentas para captar as pessoas, para aproximá-las sem as assustar. Quando existe uma relação frontal com as grandes questões contemporâneas e urgentes, tentamos colocá-las no centro, tentando não “adoçá-las”, mas sim simplificar a sua compreensão. É isso que tentamos fazer.

Estes vectores são importantes porque correspondem às três línguas contemporâneas mais urgentes e não podem viajar sozinhas. Somos forte e deliberadamente interdisciplinares: para nós, não há disciplina que possa passar sem outra. A relação entre inovação, tanto tecnológica como social e cultural, a arte – sobretudo a arte contemporânea, mas também o cinema (não desprezamos nenhum tipo de linguagem), é uma forma de garantir que um espaço possa ser um bom equilíbrio de ecossistemas: um ecossistema no qual falemos apenas de ecologia não faz sentido, porque ninguém o visita. Em vez disso, as várias atracções, que passam desde eventos culturais ou dispositivos relacionais como os jogos, são ferramentas para captar as pessoas, para aproximá-las sem as assustar. Quando existe uma relação frontal com as grandes questões contemporâneas e urgentes, tentamos colocá-las no centro, tentando não “adoçá-las”, mas sim simplificar a sua compreensão. É isso que tentamos fazer.

Ana - Consegues identificar alguns exemplos de cidades ou lugares onde a combinação entre estes três vectores tenha sido mais plenamente conseguida? 

Sim, tenho vários casos de estudo que analiso com grande interesse. Um deles é Paris, cidade onde também vivi, há cinco ou seis anos. Paris é uma das cidades mais avançadas tanto na matéria de regeneração urbana, como na relação entre ela e a inovação cultural. Nessa cidade, pelo menos em comparação com os colectivos e espaços que observei ao longo do tempo, as duas dimensões quase nunca se destacam, e isso inspirou-me. Sinto-me atraída por lugares híbridos e os parisienses são campeões nisso: conseguem adquirir bens, criar acordos bem feitos com as administrações sobre reutilização e criar estes lugares nos quais parece estar-se sempre a celebrar, mas que, na realidade, são lugares destruídos. O que eles conseguem criar é belo. Um caso exemplar que todos devem observar com interesse é Les Grands Voisins, experiência maravilhosa realizada em Paris e que durou cinco anos, de 2015 a 2020. Uma grande experiência, mas vinda de baixo: na verdade, foi uma experiência muito comunitária. E ainda outro exemplo é La REyclerie, outro belo lugar localizado em Paris. Entra-se e há um bar incrível, onde tudo é feito com materiais reciclados, mas o bar é secundário: a primeira coisa que se nota ao entrar é este lugar onde os objectos são reparados. Depois, avançamos em direcção aos carris, porque tudo está numa velha estação fora de uso e há um galinheiro. Depois há todo o tema do bem-estar, saúde, o tipo de comida que eles oferecem. Podes ir lá para estudar, participar em workshops, ou simplesmente para tomar um café. Em suma, REyclerie e Les Grands Voisins são os dois casos que tenho tido mais em consideração e, em geral, o ecossistema parisiense nesta matéria é, na minha opinião, o farol. E claro que Lisboa, por último, mas não menos importante, está também muito à frente. Estamos muito ligados a Portugal.

 

“Principalmente em períodos de emergência, parece que coisas como cultura, arte, beleza, a recuperação de espaços para devolvê-los às comunidades é algo secundário, quando devia ser o contrário. A vida comunitária é feita de muitas coisas e o bem-estar deve ser colocado um pouco mais no centro. Um bem-estar entendido obviamente não numa visão médica, mas como a possibilidade de ser feliz por um tempo.”

 

Ana – Que desafios, pressões e preocupações têm em mente no momento de pensar como requalificar um local abandonado?

Temos de considerar vários aspectos. O primeiro passo, que é também o passo-chave e talvez também a  maior dificuldade, é a relação com as administrações públicas. Se não houver bons apoios, nada se pode fazer, principalmente se quisermos intervir nos bens públicos. Em todo o caso, trata-se de falar com os donos dos locais e, portanto, de partilhar visões, fazendo com que compreendam o sentido daquilo que se está a fazer. Principalmente em períodos de emergência, parece que coisas como cultura, arte, beleza, a recuperação de espaços para devolvê-los às comunidades é algo secundário, quando devia ser o contrário. A vida comunitária é feita de muitas coisas e o bem-estar deve ser colocado um pouco mais no centro. Um bem-estar entendido obviamente não numa visão médica, mas como a possibilidade de ser feliz por um tempo. E então esta é a primeira dificuldade. Temos trabalhado muito para nos fazermos entender e talvez só este ano, depois de quatro, comecemos a falar um pouco mais à vontade sobre o que gostaríamos de dizer e também a sermos um pouco mais reconhecidos. Outro grande tema é claramente o espaço e a relação com a comunidade envolvente. Estudando-o, analisando-o, frequentando-o, compreendendo realmente quais são os interesses, necessidades, vontades e ambições. No nosso trabalho é fundamental estabelecer um relacionamento real com a comunidade. Até agora há muita retórica sobre o conceito de comunidade e criar um relacionamento real significa que deves frequentar a comunidade. Por exemplo, durante o último Pessoa Luna Park no Parco dei Quartieri Spagnoli, em Nápoles, os nossos maiores visitantes e maiores amigos foram os guardiões do parque. Eles são os verdadeiros moradores e conseguem ser veículos da verdade, porque os outros podem ter uma história, mas não é uma história concreta. Eles passam a vida nesse espaço e sabíamos que tínhamos sucesso quando vimos que eles se tornaram os nossos maiores amigos. “Conseguimos”, concluímos então. De início, sentimos muita hostilidade por parte da comunidade, porque as pessoas sentem-se um pouco invadidas. Mas nós atrapalhamos a rotina, o seu dia-a-dia, e aí tornamo-nos numa máquina complexa: somos uma cidade dentro da cidade, e somos muito chatos! Quer o nosso trabalho seja entendido como benefício, quer como complicação.

Renata – Como funciona todo o processo de regeneração urbana, desde a ideia à concretização física?

O caminho é este: começamos de longe com o mapeamento, e muitas vezes usamos sistemas de mapeamento colaborativo digital porque colaboramos com um urbanista que trata disso. O primeiro passo é a procura de espaço e depois o aprofundamento dos espaços: tratar de saber a quem pertencem os espaços, que história têm, quem os quer, quem não os quer, quem os reclama, etc. Há um tema amplo ligado aos espaços e à sua história – quase uma genealogia, para ser franca. Uma vez identificado o espaço, começa esse processo interminável de obtenção de licenças. Propomo-nos e, caso tenhamos ganho alguns concursos, o processo fica mais simples porque claramente se já houver financiamento eles ficam um pouco mais presos, obrigados a concretizar porque têm de gastar o dinheiro. No nosso caso, nos últimos dois anos trabalhamos com fundos europeus e tivemos essa simplificação. Digo isto porque, até agora, o Pessoa sempre se auto-financiou e ainda não recolhemos um tostão. A ideia de que mais cedo ou mais tarde o dinheiro vai chegar faz-nos continuar. Fazemo-lo porque acreditamos que é correto usar os recursos dessa forma, mas almejamos um modelo de sustentabilidade econômica autônoma. Por enquanto, conseguimos sustentar-nos sozinhos. Com muita dificuldade, mas conseguimos.

Um segundo passo é a análise do contexto socio-cultural para compreender com quem estamos a lidar:  qual é a comunidade envolvente, quais são as necessidades evidentes e latentes. E tentamos trabalhar muito nas latentes, porque elas interessam-nos: para nós, a inovação cultural está a responder a necessidades que ainda não conhecemos, e é isso que tentamos fazer. Para dar um exemplo mais concreto, no Parco dei Quartieri Spagnoli, Nápoles tivemos um grande desafio: ligar a cidade alta e a cidade baixa, ao situarmo-nos no meio. E por isso questionámo-nos, escolhemos línguas e métodos para nos certificarmos de que éramos compreendidos por ambos os lados. E contra a nossa previsão, a compreensão mais imediata veio da parte mais burguesa da cidade, portanto do lado superior, e aparentemente também compreendemos que eles se sentiam mais próximos daquele parque na parte alta da cidade. A parte baixa da cidade estava interessada em nós de uma forma muito mais tímida, no sentido de que era uma novidade absoluta e talvez até a comunidade dos bairros espanhóis seja como uma cidade dentro de uma cidade. É como se tivessem a resposta para tudo dentro deles e, portanto, participar no Parque Pessoa Luna era talvez também uma forma de sair dos contornos do mundo do bairro, começaram a aproximar-se mais timidamente, mas, pelo menos a partir do que emergiu das nossas análises, não perceberam esse parque como seu. No entanto, na fase inicial começámos a criar essa mistura, que era o nosso objectivo. Somos profundamente anti-burgueses e, a nível sócio-antropológico, esta diferença na resposta da comunidade foi muito interessante porque, por defeito, podia supor-se que a parte mais voraz da cidade poderia chegar com mais descaramento, no entanto não foi o caso. De facto, talvez tenha sido também a que mostrou mais reconhecimento. Por exemplo: vieram duas raparigas de Montesanto – bairro mais baixo adjacente ao parque, e, pela breve conversa que tivemos, fiquei impressionada com o facto de elas nos terem percebido imediatamente como um projecto, embora parecessem um pouco afastadas de certos temas. O facto de perceberem o projecto a um nível mais profundo significou para mim um reconhecimento maravilhoso. Assim, quando se lida com algo que é inovador ou, em qualquer caso, se tenta inovar, surgem também comportamentos diferentes e torna-se possível ir além dos estereótipos, o que é uma experiência muito interessante para nós – porque os estereótipos realmente não dizem nada.

Renata – Em geral, quanto tempo permanece aberto ao público uma vez construído e activado?

Isso depende muito pouco da nossa vontade. Na verdade, gostaríamos de fazer durar pelo menos quatro ou cinco meses, durante todo o período da Primavera e Verão (altura em que trabalhamos em espaços exteriores), mas a concessão de licenças é um processo tão lento que mal conseguimos chegar a Julho. Este ano até começámos a obra em Agosto, e avançámos depois até Outubro, cruzando os dedos para o clima, para o alerta meteorológico. Se dependesse da nossa vontade pura duraria quatro meses, e agora vamos tentar novamente com uma segunda edição do Parque Pessoa Luna no Parque dei Quartieri Spagnoli. Pedimos o espaço em Março para este ano (2023), para iniciar as obras até Abril e ter o parque activo ao longo dos meses de Maio, Junho, Julho e Agosto – também porque as construções são tão exigentes e complexas que não vale a pena ficar por tão pouco tempo. Quando as expectativas surgem, é um desastre. Também já experimentámos modelos interiores e, para tal, a duração mínima de exibição é um mês.

Sabem qual é o ponto, aqui? É que o dispositivo Pessoa, que nasceu tão composto, tão heterogéneo, atrai toda a gente porque todos se podem identificar com ele, desde as famílias jovens às crianças, e assim por diante.

Ana – Como tem sido a reacção das comunidades das cidades para as quais têm levado Pessoa Luna Park?

Dou-vos três respostas porque experimentámos três modelos de cidades, pelo menos como uma intervenção directa: Angri, município médio na província de Salerno, com 30-40 mil habitantes; a cidade de Salerno, com 130 mil habitantes; e Nápoles, metrópole com um milhão de habitantes.

As respostas são diferentes, mas todas as três foram positivas no sentido qualitativo do termo. Aos níveis quantitativo e qualitativo, Nápoles é claramente a cidade certa, precisamente porque, penso, respondemos a uma necessidade mais consciente. Portanto, Nápoles é a cidade mais pronta e madura para este tipo de experiência, precisamente porque esta nasceu originalmente para a grande cidade, sobretudo para uma questão de espaço. Salerno também respondeu muito bem: a comunidade que atraímos nesse caso era diferente da habitual, porque é feita de pessoas muito jovens. Dirigimo-nos geralmente aos jovens, mas não aos muito jovens e, em vez disso, houve uma resposta por parte destes. Sabem qual é o ponto, aqui? É que o dispositivo Pessoa, que nasceu tão composto, tão heterogéneo, atrai toda a gente porque todos se podem identificar com ele, desde as famílias jovens às crianças, e assim por diante. Cada um consegue encontrar o seu próprio espaço e em cada cidade surge um alvo principal, o qual varia de cidade para cidade. Em Salerno foi o dos muito jovens; em Nápoles as famílias jovens foram centrais e experimentaram o espaço também na dimensão do parque, prova de que esse tipo de necessidade havia surgido, mas os jovens dos 20 aos 35 representaram também um alvo que foi respondendo pontualmente. No entanto, em Nápoles a questão toca também nos mais velhos: havia este segmento com 45-55 anos de idade que era sem precedentes. Por isso, misturá-los foi fácil. 

“O pequeno centro foi claramente o grande desafio, e partimos dele por uma questão de utopia; queríamos trabalhar onde não houvesse nada, no deserto. (…) Pelo que entendo, é uma timidez que depois se transforma em reconhecimento. No final, sempre atraímos a cidade como uma experiência sui generis”

O pequeno centro foi claramente o grande desafio, e partimos dele por uma questão de utopia; queríamos trabalhar onde não houvesse nada, no deserto. Aí, a resposta foi claramente mais lenta, pois a população local estava muito menos presente no início, e atraímos mais pessoas de fora. A intervenção em Angri, um lugar que não tem muitas ofertas, durou dois anos consecutivos porque precisávamos de mais tempo para nos fazermos compreender e o espaço estava em péssimo estado. Chegámos com o bulldozer e realizámos uma intervenção de reabilitação mais substancial em termos de limpeza e remoção de resíduos. Era uma espécie de lixeira. Assim, o reconhecimento real só chegou no segundo ano, mas neste caso foi desconfiança. Pelo que entendo, é uma timidez que depois se transforma em reconhecimento. No final, sempre atraímos a cidade como uma experiência sui generis. É evidentemente criada uma rede de parceiros, incluindo instituições e associações, e é como se nos tornássemos um contentor no qual é possível fazer coisas que normalmente não se imaginaria fazer.

 

Ana – Imagino que este projecto permita à comunidade mudar a sua relação com a ideia de espaço público - nomeadamente espaços públicos abandonados. Simbolica e politicamente. Concordas? Se sim, como é que vês isso a acontecer? 

Sim, claro que concordo. Antes de mais, às coisas são dadas as palavras certas. Quando alguém lida apenas com isso - reutilização temporária de um espaço subutilizado - começamos a falar sobre as coisas com as palavras certas. Porque talvez os comités e comunidades ligadas a cada espaço abandonado representem claramente um impulso essencial a partir de baixo, que, no entanto, é facilitado na coordenação. É como se nesse momento tornássemos as coisas possíveis; coisas que normalmente uma comunidade que tende a unir-se por amor a um espaço não faz por trabalho. Em vez disso, isso deve realmente tornar-se um trabalho, porque existe uma metodologia, existe todo um trabalho estruturado para assegurar que esses espaços sejam recolocados no centro. Somos facilitadores de um processo de reapropriação que deve ser evidente, espontâneo e autónomo para as administrações. No entanto, em vez disso, há necessidade deste "traço de união", há a necessidade desta ponte que permite que as coisas sejam feitas e que a encarem com uma atitude um pouco mais científica.

 

“O tema está a arder porque é essencialmente uma emergência. Temos uma série de arquitecturas e espaços exteriores abandonados e sub-utilizados, pelo que é realmente uma resposta lógica a uma necessidade. Há uma necessidade de espaço e já não é possível construir. Há necessidade de utilizar o que já existe e reutilizá-lo. Se o mundo está a avançar nesta direcção é porque talvez tenhamos construído um pouco demais. Estes “lugares-mamutes” que foram construídos viverão pelo menos durante muitos séculos, por isso é bom re-imaginar os usos, explorar os mesmos espaços em vez de construir novos.

 

Ana – Como é que o Governo italiano gere este tipo de lugares? Qual é o cenário político no que respeita aos lugares abandonados?

Ao longo do último ano talvez tenha havido uma grande tendência para os espaços subutilizados, eles estão a mover-se muito nesta direcção. Tenho observado uma forte mudança na administração municipal: inauguraram um novo modelo, uma nova ferramenta para a utilização de espaços subutilizados que não existia, porque se torna burocraticamente complicado fazer algo se não houver um modelo a seguir. Por isso, estão em movimento. Nas cidades mais avançadas, colocaram formulários, procedimentos burocráticos ligeiramente mais simplificados para garantir que isto possa realmente acontecer... e depois estão também a atribuir vários fundos. O tema está a arder porque é essencialmente uma emergência. Temos uma série de arquitecturas e espaços exteriores abandonados e su-butilizados, pelo que é realmente uma resposta lógica a uma necessidade. Há uma necessidade de espaço e já não é possível construir. Além disso, o tema das construções é limitado e limitador. Há necessidade de utilizar o que já existe e reutilizá-lo. Se o mundo está a avançar nesta direcção é porque talvez tenhamos construído um pouco demais. 

Estes “lugares-mamutes” que foram construídos viverão pelo menos durante muitos séculos, por isso é bom re-imaginar os usos, explorar os mesmos espaços em vez de construir novos. 

Na minha opinião, é um período feliz para o tema, que deve continuar a crescer, especialmente no sul de Itália – no Norte estão muito à frente, e estamos a começar a avançar no Sul. Nápoles, por exemplo, está a dar pequenos passos.

Renata – Pensam levar este projecto a outras cidades europeias? 

Sim, é claro. Estamos interessados no Sul de Itália e noutras cidades para geminação e possíveis ligações. O objectivo é claramente levar o Pessoa Luna Park a Lisboa. Dirão eles: "Como falam eles de nós!", e é verdade, pode haver este pequeno problema com o nome, mas chama-se Pessoa porque é um baú cheio de gente. Há intrinsecamente esse conceito de levar diversidade e hospitalidade para os espaços.

Ana – No vosso website, na secção Educação, escreve-se que Pessoa Luna Park oferece "um caminho educativo não formal que revoluciona a ideia tradicional de aprendizagem". O que querem dizer exactamente com isso? De que forma é isso diferente do tradicional?

Sim, é pouco convencional porque nos concentramos muito na experiência e na experimentação directa no terreno, pelo que tentamos quebrar todos os formalismos. Um dos projectos-chave e emblemáticos que temos no âmbito da Educação é este Design Jam chamado Utopie Situate, e que é uma mistura entre uma espécie de jogo e uma maratona, uma co-design/planeamento hackathon. Trabalhamos em momentos diferentes e com diferentes métodos de trabalho de grupo. Depois, vamos directamente ao protótipo da experiência / do que queremos criar e alcançar. Tudo isto através da mistura de diferentes linguagens, sobretudo mais informais: no campo da inovação, é preciso experimentar, sujar as mãos.

“Tentamos criar este ecossistema em que tudo circula de uma forma ligeiramente mais feliz, um pouco mais harmoniosa, mesmo a nível económico. Não resolve os problemas do mundo, mas dá a ideia de um pequeno espaço onde se realiza uma troca justa.”

 

Ana – O slogan do Parque Pessoa Luna é "#lamarchettagiusta", um jogo de palavras italiano que ironicamente nos convida a fazer uma boa acção, num sistema económico que é individualizado e orientado pelo mecenato. Por que pensam que é importante enfrentar este tipo de sistema, e como é que estão a contribuir para essa posição ao apoiá-lo?

Portanto, digamos que a provocação da "lamarchettagiusta" vem deste mar de negatividade que vemos à nossa volta, especialmente quando se trata de Economia. À nossa maneira pequena, porque estamos a falar de uma escala minúscula em comparação com a realidade como um todo e também com a da cidade, tentamos criar este ecossistema em que tudo circula de uma forma ligeiramente mais feliz, um pouco mais harmoniosa, mesmo a nível económico. Não resolve os problemas do mundo, mas dá a ideia de um pequeno espaço onde se realiza uma troca justa.

O nosso sistema é mais acessível. "Lamarchettagiusta" significa para nós tentar contribuir, mesmo que minimamente, sem a ambição de fazer grandes mudanças epocais para uma economia mais sustentável, para uma forma mais produtiva, mais generativa de estarmos juntos. Na minha opinião, a comunidade não só respondeu activamente como percebeu realmente o contributo, entendeu-o e traduziu-o também em interacção em vez de acção.

 

“Na minha opinião, é um alvo que precisa de uma certa atenção porque está a meio caminho, ainda não se formou completamente, viveu os maiores dramas da nossa contemporaneidade, sofreu todas as formas de precariedade.”

 

Ana – Diz-se que os Millennials são o vosso principal público-alvo. Porquê eles?

Porque nós também o somos. Gostamos de falar de coisas das quais sabemos e, como pertencemos à Geração Z e ao grupo de Millennials (a nossa equipa tem entre 20 e 35 anos de idade), encarnamos essa geração. E talvez sejamos um pouco mais capazes de dar respostas a uma geração à qual pertencemos, querendo sempre ser minimalistas e não tendo a presunção de querer resolver os problemas do mundo, mas acreditamos que as ferramentas que possuímos são mais capazes de responder a esse alvo. Na minha opinião, é um alvo que precisa de uma certa atenção porque está a meio caminho, ainda não se formou completamente, viveu os maiores dramas da nossa contemporaneidade, sofreu todas as formas de precariedade. Por isso, faz sentido desenvolver projectos que sejam um pouco mais específicos e direccionados para esta geração.

Renata – E por falar na equipa, como é ela composta, exactamente? Quem são vocês e quais são as vossas posições e responsabilidades?

Fazemos parte do Colectivo Pessoa, que além da direcção tem outros membros e colaboradores que entram e saem, e também voluntários que enriquecem a comunidade, o que muda de tempos a tempos. Claramente as comunidades locais são criadas para uma questão logística, e quando se está em Nápoles, os voluntários são aproximadamente napolitanos. Para começar, a equipa, a direcção, e a alma do projecto é composta por mim (Azzurra): eu trato da gestão, tanto geral como criativa e artística. Por isso, produzo e penso em toda a estranheza, mas também trato das partes um pouco mais aborrecidas e gerenciais. Há ainda a Grazia, que é a presidente do Collettivo Pessoa. Ela é a jurista, e cabe-lhe, portanto, um papel mais administrativo e executivo. Como directora-executiva do projecto, ela cuida de todos os aspectos executivos e de gestão, por isso ela é a verdadeira gestora que mantém as coisas a funcionar e também a que mais luta. O Roberto é o criador, e encarrega-se de todos os aspectos tecnológicos: a impressão 3D e a Fatteria Nerd. A Valentina, minha irmã, ocupa-se dos aspectos comerciais: o patrocínio, a gestão comercial e o lado alimentar, que tem uma gestão separada muito complexa. A Martina trata da importação e da exportação. Ela é formada em Línguas e apoia a Valentina no sector comercial, com o qual colabora. A Valéria é advogada e faz parte da equipa Grazia, que gere todos os aspectos burocráticos. Estamos todos envolvidos na gestão do espaço quando este está activo, com diferentes funções. Todos temos uma tarefa mais específica na parte do planeamento: quem lida com a parte administrativa, com a elaboração do projecto, com a criação de conteúdos online. Eu também lido com a comunicação digital e tenho colaboradores ocasionais de diferentes tipos: áudio, vídeo e até mesmo gráficos. O Vincenzo, que inicialmente veio como voluntário em 2020 e depois acabou por fazer parte da nossa equipa, é um dos mais jovens entre nós, juntamente com Camilla – têm 19 e 20 anos. Juntos, formam o lado “júnior” da equipa, e tratam da gestão. Estão a trabalhar para poderem adquirir competências de gestão a um nível ligeiramente superior, porque são realmente jovens e estão em formação.

Este é exactamente o fulcro do Colectivo Pessoa, a equipa constante, que está sempre presente e com a qual nos movemos em todas as etapas. Depois há todo o grupo de voluntários, que são muitos. Este ano, Adriana juntou-se a mim e está a ajudar-me muito. Ela é actualmente a gestora da comunidade porque ela é bastante extensa e precisa de ser gerida em todas as suas funções. Espero não ter esquecido ninguém – a realidade é que somos muitos e há uma afluência incessante de pessoas.

 

Ana – Parte do vosso financiamento provém de crowdfunders. Achas que este tipo de financiamento participativo está alinhado com o desejo de enfrentar a individualidade e os sistemas económicos movidos pelo mecenato? Que outros tipos de financiamento já receberam?

Nunca desenvolvemos um verdadeiro crowdfunding – criámos ferramentas internas de auto-financiamento que são definitivamente o bar ou a produção da Fatteria Nerd. Depois há a questão das doações, mas é muito espontânea – nunca fizemos uma verdadeira campanha. Há também uma taxa de adesão, mas tudo foi sempre tornado opcional, para dar uma ideia um pouco mais estruturada da sustentabilidade económica. Depois participámos em vários concursos, vários dos quais ganhámos, e assim entrámos neste mundo de financiamento público, que fornece apoio e permite-nos implementar uma série de funções: comprar maquinaria, investir um pouco mais em pessoal, etc. Para além do financiamento público, doações, taxas de adesão, concentramo-nos num modelo autónomo de sustentabilidade económica – a utilização do espaço é gratuita e livre, então quem quiser doar pode fazê-lo. Além disso, a questão dos patrocínios é crucial porque há muitas empresas que não só aceleram o financiamento, porque o financiamento público não tem um timing muito adequado para nós, mas felizmente querem investir em projectos virtuosos e são uma boa forma de nos apoiar.

 

 

[English version below]

Pessoa Luna Park: “why don't we put on a format that can temporarily revive to abandoned, underused, degraded spaces?”

When walking through the streets of a randomly chosen place, we perceive an urban identity that is changeable, marked by continuous and more or less ephemeral processes of replacement and regeneration - of its uses, of the communities that are formed there and of the memory created, and of the rites that identify them, our rites, rites that contribute to such a feeling of belonging to a space that is also metamorphosis; of the policies that affect it, make it plastic.

As if the land could be finite, flustered by this myth, we passively watch the demands of an unbridled construction, which occupies that land and later gives way to the uninhabited, the unused, the degraded. We talk about damage in the space that slips through that sense of belonging, through the collective memory of those who inhabit it.

We ask ourselves: in this city-palimpsest, woven by layers where new uses are permanently reinscribed, when the streets are maintained but the spaces are already other, what happens to that feeling, to that sense of community? How does it live with the difference and mutation of a space? Having this in mind, and to break away from this passive look at the damage, it was in 2013 that Pessoa Luna Park was born, a project that has been working on urban spaces in an itinerant way, with a view to reusing and building temporary centres of collective experimentation, "that combine  cultural, social, educational and recreational vocation with the image of a sustainable city". A project that goes hand in hand with the premises of ecology, in the sense of promoting the circular use of a space, innovation, cultural promotion and active citizenship: these are abandoned or degraded spaces that, like a Phoenix, are reborn and become meeting points where the community is called to experiment and recreate, recovering, perhaps, that sense of community that may have been damaged by the degradation of the space.

Ana Rodrigues and Renata Pisanti talked with Azzurra Galeota, President of Pessoa Luna Park. The interview was conducted in Italian and later translated from the original into English by Renata and from there into Portuguese by Ana.

Renata – How did the idea of a traveling amusement park come about?
The big misunderstanding is thinking that it's just an amusement park, but we get there later, because we created this misunderstanding, on purpose. Actually, the project was born from a fairly simple need: we had been looking for a space in which to place this centre of artistic and cultural production for many years and for so long, to the to the point of even running   into cases of illegal and unauthorized use, because we needed large spaces, large sheds and warehouses, and perhaps we were even a little in the throes of desperation. However, we had long since begun to take an interest in disused and abandoned assets, in underused areas, and since we had already done a small mapping for a matter of personal interest, we thought: "At this point why don't we put on a format that can temporarily revive to abandoned, underused, degraded spaces?”. Through a system that is not just redevelopment “tout court”, because the latter perhaps improves the space immediately, but it does not introduce an ecosystem for a new use of spaces, therefore it does not introduce a new system of care and it does not give an idea of how that space can be experienced.


We draw moustaches on things and transform forgotten spaces into small situated utopias. (...) In some cases, it is a question of inaugurating ways of temporarily experiencing spaces.

So, we thought about setting up this cultural format as an itinerant cultural innovation and urban regeneration project, and we say indeed that "we draw moustaches on things and transform forgotten spaces into small situated utopias", which is exactly what we do. In a very short space of time, very often in the space of a month, we manage to transform a public good in a really bad state into an imagined place. The reference to amusement parks is there above all for the atmosphere, for the fact that they are itinerant and bright. However, we reinterpret luminosity as a way of putting the spotlight on spaces that have enormous potential and that can be also used with agile tools, because temporary architecture and temporary projects are capable of doing what no one else can, because they have much more agile times and methods.

Renata – Can you tell us the behind the scenes and the deep roots of the Pessoa Luna Park project?
In my opinion, the deep roots start from how the team is made up. We are an atypical, very heterogeneous collective. Many think that we are all architects, but the true reality is that there are no architects among us, or rather, there are in the team of PhD students and researchers who support us, with whom we also carry out projects. However, the real keystone of the project is the fact that there is a lot of heterogeneity. For example, I have a philosophical education, and since I come from a particularly practical and applied branch of philosophy, I really felt the need to transform my studies on spaces, vision into something concrete. Therefore, for me Pessoa Luna Park was, and continues to be, a device. Part of the team is also made up of lawyers, who deal with administrative mediation. Here the whole issue emerges, which is perhaps the one we deal with much more than people might think: the relationship with public administrations. In some cases, it is a question of inaugurating ways of temporarily experiencing spaces. For example, small towns aren't really used to it, they don't know how to do it and they have more complications in understanding what the temporary is. Instead, Naples, for example, is a city a little ahead on those issues.

There is also an artist among us, but actually we all feel truly dedicated to contemporary art – both for the language we use and for the collaborations we establish. The “behind the scenes” of all our work is certainly made up of a lot of effort: there is a very strong worker dimension, in addition to the design one. We are planners, we participate in tenders and, therefore, there is all that process of choosing tenders, managing, reporting and all the boring things that have to do with the economy, but there is also a lot of purely manual work: the cleaning and regeneration of spaces involve physical actions, you have to get your hands dirty. So, we work hard in the places (and lose many kilos!). We also do the before and after on our bodies! (laughs).

 

Ana – Ecology, innovation and cultural promotion are the three principal vectors of your project. Why are they important in what concerns to urban requalification, and how are they invoked in your activities?

In my opinion they are important because they are the three most urgent contemporary languages and they cannot travel alone. We are strongly and deliberately interdisciplinary, there is no discipline that can do without another for us. The relation between innovation, both technological and social and cultural, art – above all contemporary art, but also cinema (we do not disdain any kind of language), is a way to ensure that a space could be a good balanced ecosystem: an ecosystem in which we only talk about ecology makes no sense, because nobody comes there. Instead, the various attractions, the cultural event or relational devices such as games, are tools to attract people, to bring them closer without scaring them. When there is a frontal relationship with the big contemporary and urgent issues, we try to put them at the centre, trying not to sweeten them, but rather to simplify their understanding. That’s what we try to do. I consider myself a little nerd, I oscillate between computer science, philosophy and new technologies, precisely as a matter of passion and personal study. And so, I thought that even technology, if we try to introduce it into a system in which you recognize some aspects, for example a game whose rules you already know, but which also uses a technology unknown to many, it allows you to directly experience it. In our FAB LAB, which is now called Fatteria Nerd - as we all in the team are healthy bearers of the term nerd - we have set up this circular system that incorporates both technology and ecology, and which aims to recover plastic waste and transform it. Therefore, we grind, extrude and we can also create new objects from this process. The key object that we create is our "#lamarchettagiusta" token, a bit provocative name because even our language is deliberately provocative. The token is perhaps the thing that is underestimated the most, but actually it is the instrument that everyone understands and which simultaneously tells a story. A story that clearly everyone lives with different degrees of insight: you can simply use it to pay or you can ask yourself: "Where does this token come from? Why was it done? How was it done?". And that actually happens because we have different types of users: there are those who come more to drink a beer and stay in a nice place; those who instead want to participate as part of the team; those who want to make a specific lunge on the theme of technologies because perhaps they are more interested in the Fatteria. Let's say that that object, as well as many other objects in space, is there to simplify or make accessible the understanding of themes that we believe are very complex.

Ana - Could you identify some examples of cities or places where the combination between these three vectors has been better achieved?

 Yes, I have several case studies that I look at with great interest. One of them is Paris, a city where I also lived five or six years ago. Paris is one of the most advanced cities on the subject of urban regeneration, and on the mix between this and cultural innovation. In this city, at least compared to the collectives and spaces that I have observed over time, the two dimensions are almost never detached, and I took inspiration from there. I am attracted to hybrid places and they are champions in this: they manage to acquire goods, to create well-done agreements with the administrations on reuse and to set up these places that always seem to be celebrating, but in reality they are destroyed places. What they finally manage to create is beautiful. An exemplary case that everyone should observe with interest is Les Grands Voisins, which is a wonderful experiment carried out in Paris and which lasted five years, from 2015 to 2020. A big experiment, but from below: actually it was a very community experiment. And yet another example is La REyclerie, another beautiful place that is located in Paris. You enter and there is a beautiful bar, it's all made with recycled materials, but the bar is secondary because the first thing you notice upon entering is this place where objects are repaired. Then you move towards the tracks, because everything is in an old disused station and there is a chicken coop. Then there's the whole theme of wellness, health, the type of food they offer. You can go there to study, to participate in workshops, or simply to have a coffee. In short REyclerie and Les Grands Voisins are the two cases that I have taken into consideration more and in general the Parisian ecosystem on this issue is the lighthouse in my opinion. And, last but not least, Lisbon is also far ahead, of course. We are very attached to Portugal.

 

Ana – What challenges, pressures and concerns do you have to take in mind in the moment of thinking about how to requalify an abandoned place?

We have to consider several things. The first step, which is also the key-step, and perhaps the biggest difficulty as well, is the relationship with the public administrations. If there is no good support, nothing can be done, especially if we want to intervene on public goods. In any case, it is a question of talking to the owners of the places and therefore of sharing visions, making sure they understand the meaning of what you are doing. Especially in emergency periods, it seems that things such as culture, art, beauty, the recovery of spaces to return them to communities are secondary, when it should be the opposite. Community life is made up of many things and well-being should be put a little more at the center. A well-being understood obviously not in a medical vision, but as the possibility of being happy for a while. And so this is the first difficulty. We have worked very hard to be able to make ourselves understood and perhaps only this year, after four years, we are starting to speak a little more easily about what we would like to say and we are also starting to be a little more recognised. Another big theme is clearly space and the relationship with the surrounding community. Studying it, analyzing it, frequenting it, really understanding what the interests, needs, wills and ambitions are. In our job it is essential to establish a real relationship with the community. By now there is a lot of rhetoric on the concept of community and creating a real relationship means that you have to attend the community. For example, during the last Pessoa Luna Park at the Parco dei Quartieri Spagnoli, in Naples, our greatest visitors and biggest friends were the park guardians.

They are the real residents and manage to be vehicles of truth, because others can have a story, but it is not a concrete story. They spend their lives in that space and we knew we were successful when we saw that they had become our biggest friends. “We did it”, we thought. At first, we felt a lot of hostility from the community, because people felt a little invaded. However, we disrupt their routine and everyday life and then we are a complex machine, we have many complexities: we are a city within a city, and we are very annoying! Either it manages to be perceived as a benefit or it becomes very complicated.

Renata – Can you tell us how the entire urban regeneration process works? A process that starts from the initial idea and ends with the physical realization of it (in this case the construction from scratch of the Pessoa Luna Park in the chosen spaces)

 So, the path is this: we start from afar with mapping, and very often we use collaborative mapping systems as we collaborate with an urban planner who takes care of this (digital collaborative mapping). The first step is the search for space and then the deepening of the spaces. At this point we find out who owns the spaces, what history they have, who wants them, who doesn't want them, who claims them, and so on. There is a great theme linked to spaces and the history of them, almost a genealogy, to be more realistic. Once the space has been identified, the endless process of obtaining permits begins, and so we propose ourselves. In case we had won some tenders it is all a little simpler because clearly if there is already funding they are “trapped”, obliged to do things because they have funds to spend. Speaking about us, during the last two years we have worked with European funds and we have had this “simplification”, in quotation marks. I say that because up to now Pessoa has been self-financed and we have not yet collected a penny. The idea that sooner or later money will arrive keeps us going. We participate because we believe it is right to use the funds in this way, however we are aiming for an autonomous economic sustainability model. For now we are able to stand on our own, with great difficulty, but we succeed.

A second step is the analysis of the socio-cultural context to understand who we are dealing with: what the surrounding community is, what the evident and latent needs are. And we try to work a lot on the latent ones, because this interests us: for us, cultural innovation is responding to needs that we don't know yet we have, and this is what we try to do. To give a more concrete example, at the Parco dei Quartieri Spagnoli, Naples, we had a great challenge: to connect the upper city and the lower city, while we were in the middle. And so we questioned ourselves, we also chose languages and methods to make sure that we were understood by both sides. And against our prediction, the most immediate understanding came from the more bourgeois part of the city, therefore the upper side, and, apparently, we also understood that the uptown felt closer to that park. The lower part of the city showed interest in us in a much more timid way: it was an absolute novelty and perhaps the community of the Spanish Quarters is like a city within a city as well. It is as if they had the answer to everything inside them and therefore participating in Pessoa Luna Park was perhaps a way to get out of the neighbourhood-world contours, even if they don't perceive that park as their own, least from what emerged from our analyses. They approached more timidly, but in the final phase we started to create that mixture which was the goal for us. We are profoundly anti-bourgeois and at a socio-anthropological level this difference in the response from the community was very interesting. By default we could assume that the most veracious part of the city could arrive with more brazenness, however this was not the case. Indeed, perhaps it was also the one who showed the most recognition. For example, two girls from Montesanto, which is the lower neighbourhood adjacent to the park, came, and from this brief chat we had I was struck by the fact that they immediately perceived us as a project, even though they seemed a little distant from certain themes. The fact that they understood the project at a deeper level meant a wonderful recognition for me. So, when you deal with something that is innovative, or in any case you try to innovate, different behaviours also emerge and it becomes possible to go beyond stereotypes. And this is in any case a very interesting experiment for us, because stereotypes really don't tell us anything.

 

Renata – In general, how long does it remain open to the public once built and activated?

That depends very little on our will. Actually, we would like to last at least four or five months, throughout the spring and summer period when we work on outdoor spaces, but they are so slow with the granting of permits that we barely manage to get to July for activation. This year we even started the construction site in August and then we moved on until October, crossing our fingers for the climate, for the weather alert. If it depended on our pure will, it would last four months, and now we'll try again with a second edition of Pessoa Luna Park at the Parco dei Quartieri Spagnoli. We have requested the space since March for this year (2023), to start the worksite by April and activate the park throughout the months of May, June, July and August – also because the constructions are so demanding and complex that it is not worth staying for such a short time. When the expectations arise, it's a disaster. We have also experimented with indoor models and basically the bare minimum is a month.

 
Do you know what the point is? The Pessoa device, which was born so composite, so heterogeneous, attracts everyone because everyone can identify with it, from young families to children, and so on
 

Ana – How has been the reaction of the communities of the cities where you are taking this project?

I give you three answers because we have experimented with three city models, at least as a direct intervention: Angri, which is a medium-sized municipality in the province of Salerno, with 30-40 thousand inhabitants; Salerno, a town with 130 thousand inhabitants; and Naples, metropolis with a million inhabitants.

The answers are different, but all three were positive in the qualitative sense of the term. On a quantitative and qualitative level, Naples is clearly the right city, precisely because we have responded to a more conscious need. So, Naples is the most ready and mature city for this kind of experience, precisely because it was originally born for the big city, above all for a question of space. Salerno also responded very well: the community we attracted in that case was different than the usual, because it is made of very young people. We generally address young people but not the very young and, instead, there has been a response of that type. Do you know what the point is? The Pessoa device, which was born so composite, so heterogeneous, attracts everyone because everyone can identify with it, from young families to children, and so on. Everyone manages to find their own space and, in every city, a primary target emerges, which however is not always the same. In Salerno it was that of the very young; in Naples the young families were central and experienced the space also in the dimension of the park, evidence of the fact that that type of need has emerged, but the young people from 20 to 35 years old also represented a target which replied punctually. However, in Naples the issue is actually boundless even in the older ones, and there was this 45–55-year-old segment that was unprecedented. So, mixing was easy.

The small center was clearly the big challenge and we started from there just for a matter of utopia: we wanted to do it where there was nothing, in the desert. Clearly the response was slower there, local people were much less present at the beginning and we attracted more people from outside. The intervention in Angri, a place that doesn't have many offers, lasted two consecutive years because we needed more time to make ourselves understood and the space was in terrible shape. We arrived with the bulldozer and carried out a more substantial redevelopment intervention in terms of cleaning, removal of waste. It was sort of a dump. So, the real recognition only arrived in the second year, but in this case, it was distrust. From what I understand it is a diffidence which then turns into recognition. In the end we have always attracted the city as a sui generis experience. A huge network of partners is clearly created, including institutions and associations, and therefore it is as if we become a container in which it is possible to do things that you would not normally imagine doing.

 

Ana – I imagine that this project allows the community to change their relation with the idea of public space - namely abandoned public spaces. Symbolically, and politically. Do you agree? If so, how does it happen?

Yes, of course I agree. First of all, things are given the right words. When someone deals with just that - temporary reuse of an underutilized space - we start talking about the things we're saying in the right words. Because perhaps the committees and communities linked to each abandoned space clearly represent an essential push from below, which however is facilitated in coordination. It is as if at that point we made things possible; things that normally a community that tends to unite out of love for a space does not do for work. Instead that must really become a job, because there is a methodology, there is a whole structured work to ensure that those spaces are put back at the centre.

We are facilitators of a process of reappropriation that should be evident, spontaneous and autonomous for the administrations. However, there is a need for this “trait d'union”, there is a need for this bridge that allows things to be done and that face it with a slightly more scientific attitude.

 

“The theme is burning because it is essentially an emergency. We have a series of abandoned, underused architectures and outdoor spaces, so it's really a logical response to a need. There is a need for space and it is no longer possible to build. (…) There is a need to use what already exists and re-use it, in fact if the world is moving in this direction, it’s because maybe we built a little too much. These “mammoth-places” that were built will live at least for many centuries, so it is good to reimagine the uses, exploit the same spaces instead of building new ones.”

Ana – How does the Italian Government rule these kinds of places? What is the political scenario in what concerns abandoned places?

Let’s say that perhaps in the last year there has been a big trend on underused spaces, they are moving a lot in this direction. I have observed a strong change in the municipal administration: they have inaugurated a new model, a new tool for using underutilized spaces that did not exist, because it becomes bureaucratically complicated to do something if there is no model to follow. So, they are moving. In the most advanced cities, they have put up forms, slightly more streamlined bureaucratic procedures to make sure that this thing can actually happen... and then they are allocating several funds as well. The theme is burning because it is essentially an emergency. We have a series of abandoned, underused architectures and outdoor spaces, so it's really a logical response to a need. There is a need for space and it is no longer possible to build. Furthermore, the theme of constructions is limited and limiting. There is a need to use what already exists and re-use it, in fact if the world is moving in this direction, it’s because maybe we built a little too much.

These “mammoth-places” that were built will live at least for many centuries, so it is good to reimagine the uses, exploit the same spaces instead of building new ones.

In my opinion it is a happy period for the theme, which must continue to grow, especially in Southern Italy. In the North they are far ahead, in the south however we are starting to move – Naples, for example, is taking small steps.

Renata – Are you thinking of bringing this project to other European cities?

Yes, of course. We are interested in Southern Italy and in other cities for twinning and possible connections. The purpose of life is clearly to bring Pessoa Luna Park to Lisbon. They would say: "How is it that they talk about us?", and it's true, there could be this little problem with the name, but it's called Pessoa because it's a trunk full of people. There is intrinsically that concept of diversity and hospitality into the spaces. So yes, there is this intention.

 

Ana – On your website, in the Education section, you write that Pessoa Luna Park offers "a non-formal educational path that revolutionizes the traditional idea of learning". What exactly do you mean by that? In which ways is that different from the traditional?

Yes, it is unconventional because we focus a lot on experience and direct experimentation in the field, so we try to break down all formalisms. One of the key and flagship projects we have on the Education theme is this Design Jam called Utopie Situate, which is a mix between a sort of game and a marathon, a co-design/planning hackathon. We work at different times and with different group working methods. Then we go directly to the prototype of the experience / of what we want to create and achieve. That is made through a mixture of languages, mainly informal ones: in the field of innovation, you have to experiment, get your hands dirty.

 
we try to set up this ecosystem in which everything circulates in a slightly happier, a little more harmonious way, even economic level. It hasn’t solved the world’s problems but it gives you the idea of a small space where a fair exchange takes place.
 

Ana – The slogan of Pessoa Luna Park is “#lamarchettagiusta”, which is an italian wordplay that ironically invites us to do a good action, in an economical system which is individuality and patronage-driven. Why do you think is it important to face this kind of system, and how are we contributing to that position by supporting you?

So, let's say that the provocation of “lamarchettagiusta” comes from this sea of negativity that we see around us, especially when it comes to the economy. Let's say that in our own small way, because we are talking about a tiny scale compared to reality as a whole and also to that of the city, we try to set up this ecosystem in which everything circulates in a slightly happier, a little more harmonious way, even economic level. It hasn't solved the world's problems but it gives you the idea of a small space where a fair exchange takes place.

Our system is more accessible. “Lamarchettagiusta” in some way for us is to try to contribute, even if minimally, without the ambition of making major epochal changes to a more sustainable economy, to a more productive, more generative way of being together. In my opinion, the community not only responds actively but has really perceived the input, has grasped it and has also translated it into interaction, rather than into action.

Ana – You say Millennials are your principal target-audience. Why them?

Because we are Millennials as well. We like to talk about things we know and since we belong to Generation Z and Millennials group (our team ranges from 20 to 35 years old), we embody that generation. And perhaps we are a little more able to give answers to a generation of which we belong, always wanting to be minimalist and not having the presumption of wanting to solve the world's problems, but we believe that the tools we possess are more capable of responding to that target. In my opinion, it's a target that needs a certain amount of attention because it's halfway there, it hasn't fully formed yet, it has lived through the biggest dramas of our contemporaneity, it has suffered all forms of precariousness. Therefore, we need to develop projects that are a little more specific and target at this generation.

 

Renata – And speaking of the team, how exactly is it composed? Who are you and what are your positions and responsibilities?

We are part of the Pessoa Collective, which has its own board and then has members, or in any case collaborators who come and go, and also volunteers who enrich the community, which changes from time to time. Clearly rather local communities are created for a logistical issue, and when you are in Naples the volunteers are roughly Neapolitan. To begin, the team, the board, and the soul of the project is made up of me (Azzurra): I take care of the management, both general and creative and artistic. So I produce and think about all the weirdness, but I also manage the bit more boring and managerial parts. Then there 's Grazia, who is the president of Collettivo Pessoa. She is the jurist, therefore the one who has a more administrative and executive attitude. As executive director of the project, she takes care of every executive and managerial aspect, so she is the real manager who keeps things going and also the one who struggles the most. Then there's Roberto, the maker, and he takes care of all the technological aspects: 3D printing and Fatteria Nerd. Then there's Valentina, my sister, who takes care of the commercial aspects: sponsorship, commercial management and the food side, which has a very complex separate management. Then there's Martina, who deals with import-export as her first job. She has a degree in languages and she supports Valentina in the commercial sector, with which she collaborates. Then there is Valeria who is a lawyer and she is part of the Grazia team, which manages all the bureaucratic aspects. We are all involved in space management when it is active, with different functions. Everyone has a more specific task in the planning part: who deals with the administrative part, who with the drafting of the project, who with the creation of online content. I also deal with digital communication and I have occasional collaborators and creatives of different types: audio, video and even graphics. Then there's Vincenzo, who initially came as a volunteer in 2020 and then ended up being part of our team, he is one of the youngest among us, together with Camilla. They are the junior side and are part of the management side. They are working their way up to be able to acquire management skills at a slightly higher level, because they are really young, they are 19 and 20 years old and they are in training.

This is precisely the fulcrum of the Pessoa Collective, the constant team, which is always there and with which we move in all the stages. Then, there is the group of the volunteers who are many. This year Adriana joined me and is helping me a lot. She is currently the community manager because the community is quite extensive and needs to be managed in all its functions. I hope I haven't forgotten anyone. The reality is that we are so many and there is an incessant influx of people.

 

Ana – Part of your financing comes from crowdfunders. Do you think that this kind of participative financing is aligned with that desire of facing the individuality and patronage-driven economical systems? What other types of financing have you received?

We have never done real crowdfunding; we have created internal self-financing tools that are definitely the bar or the output of the Fatteria Nerd. Then there's the issue of donations but it's very spontaneous, we've never done a real campaign. There is also a membership fee but everything has always been made optional, to give a slightly more structured idea of economic sustainability. Then we participated in various tenders as I told you before, we won several of them and so we entered this world of public funding, which in any case provides support and allows us to implement a series of functions, buy machinery, invest a little more in staff etc. Beyond public funding, donations, membership fees, we focus on an autonomous economic sustainability model, the use of the space is free, then whoever wants to donate can do so. Furthermore, the issue of sponsorships is crucial because there are many companies that not only accelerate funding, because public funding does not have very suitable timing for us, but luckily, they want to invest in virtuous projects and they are a good way to support us.

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