Uma nova visão sobre planificações e financiamento

É útil, nesse contexto, que quando se começa a esboçar um projeto, se tenha em mente como é que ele vai acabar. No fundo, imaginar o resultado, muito antes de se dar o primeiro passo. Esse é o primeiro e decisivo momento.
— Santiago Macias

Santiago Macias licenciado em História, variante de História da Arte e doutor em História.

Uma das matérias que sempre conduziu grande parte dos projetos que dirigi foi aquilo que os cineastas designam como “final cut”. Ou seja, poderem ter a última palavra, e a derradeira opção, em termos de montagem. O mesmo é dizer: terem a decisão final quanto à obra acabada.

Essa opção de fundo levou a que optasse, a maior parte das vezes, pela concretização de projetos “artesanais”, nos quais a execução de cada peça pode ser acompanhada e controlada de perto. É útil, nesse contexto, que quando se começa a esboçar um projeto, se tenha em mente como é que ele vai acabar. No fundo, imaginar o resultado, muito antes de se dar o primeiro passo. Esse é o primeiro e decisivo momento. De um rigoroso, e flexível, planeamento nascem, constroem-se e dá-se público conhecimento dos projetos.

A primeira limitação a ultrapassar é o financiamento. Mesmo sem ter em conta o rácio de 300 €/metro quadrado numa exposição standard, a verdade é que sem financiamento que cubra, com qualidade, itens como projeto de equipamento e montagem, grafismo, iluminação, preparação do catálogo dificilmente se conseguirá um resultado de qualidade. No essencial, o projeto que se delineie deve ser o mais próximo possível de um guião final. Não só porque convém que seja claro para quem o lê/avalia, como esse detalhe nos poupa desnecessárias e cansativas duplicações.
Os fundos comunitários têm, até agora, sido a garantia de trabalho de muitas associações, que apresentam os seus projetos em disputadíssimos concursos onde, biblicamente, muitos são chamados e poucos os escolhidos. Qual a taxa de financiamento? No máximo, 75% na maior parte das vezes. Ou seja, se se apresentar um projeto com um montante de 60.000 euros, consegue-se um financiamento europeu de 45.000 euros. A entidade proponente tem de garantir os restantes 15.000. Uma tarefa só aparentemente fácil. No final do século XVI, Diogo Bernardes escrevia “E porém de mecenas tantos temos / Como de brancos tem a Etiópia...”. A situação mantém-se. O que faz com que a procura desse financiamento se revele tarefa complexa, demorada e desgastante. As entidades públicas (Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Direções Regionais etc.) são assediadas por todo o tipo de pedidos. As fundações, na maior parte das ocasiões, desinvestiram quanto a este tipo de apoios. Uma boa opção, a única possível?, é tentar dispersar fontes de financiamento, de forma a não sobrecarregar as entidades que manifestam disponibilidade para apoiar. No fundo, tentar garantir uma complementaridade de financiamentos.

Sempre me pareceu importante que qualquer projeto que se desenvolva comporte duas componentes: o interesse intrínseco por aquilo que queremos pôr no terreno; o interesse e a pertinência que o queremos concretizar pode representar para eventuais patrocinadores. Que irão perguntar “estou a dar dinheiro para quê? porque razão hei-de eu apoiar este projeto?”. Uma das questões que sempre motiva quem apoia é o retorno. No fundo, a visibilidade de um projeto. Que para além da sua concretização física, tem, necessariamente, que ter extensões. Ou seja, um catálogo impresso, uma página web, onde todos os conteúdos estejam disponíveis gratuitamente, e formas de divulgação nas redes sociais.

​A partir desse momento, seguem-se meses de trabalho, de alguma burocracia, de muitos obstáculos e de uma convicção que nunca nos abandonará. E de um entusiasmo que, obrigatoriamente, será o mesmo aos 24 e aos 57 anos.

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