Catalina Borozan: “cada música tem a sua sonoridade e corresponde a uma fase diferente da minha vida”

Natural da Moldávia, aos sete anos Catalina Borozan veio para Portugal. Não se imagina a voltar para a Moldávia. Estudou Ciências da Comunicação na Universidade do Algarve, mas a grande paixão é a Música.

Tens uma relação com a música desde muito cedo. Recordas-te da primeira vez que tiveste contacto com ela? Foi em Portugal ou ainda na Moldávia?
O meu primeiro contacto com a música deu-se na Moldávia com apenas quatro anos. No infantário, tive uma professora de música que quis trabalhar comigo. Então convidou-me a mim e à minha mãe para irmos ao estúdio dela e acabámos por trabalhar juntas durante cerca de um ano. Foi com ela que tive aulas de canto e o meu primeiro contacto com um estúdio, onde gravei músicas infantis e realizei a minha primeira atuação ao vivo.

E em Portugal, o que descobriste que te cativou e te faz sentir em casa?
O facto de estar finalmente com os meus pais, que já estavam cá a trabalhar (eu e a minha irmã vivíamos na Moldávia com os meus tios). O “sentir-me em casa” é estar onde estão as pessoas que mais amo. Actualmente estou habituada à vida que levo cá, aos amigos que tenho, às pessoas com quem trabalho, pois mais de metade da minha vida foi cá.

Há Algarve na tua identidade artística? Em retroespectiva, quais foram as principais influências que te ajudaram a definir a musicalidade da Catalina?
Eu sempre ouvi música internacional, principalmente em língua inglesa. Na minha primeira banda, ainda durante a secundária, tínhamos muitas influências do rock. Tocávamos músicas dos Paramore, Incubus, NoDoubt. Depois, quando formei outra banda e comecei a ter atuações em bares e eventos, havia já uma vertente mais do Soul e do Blues. Hoje em dia oiço mais R&B e Pop e até estou mais ligada ao Hip-Hop devido aos amigos que me rodeiam. ​Sinto que já passei por todos os estilos musicais. Então, acho que não tenho uma resposta concreta para aquilo que define a minha musicalidade; acho que são os sentimentos do momento. Cada fase da minha vida é diferente, cada música conta a sua própria história.

E quanto às palavras, como surge a escrita na tua vida e como descreves esta relação com elas?
No primeiro ano de escolaridade aprendi a escrever e comecei a escrever poemas num diário que tinha. Eram poemas principalmente com o tema “Saudade” e eram todos escritos para os meus pais. Nunca os mostrava a ninguém, eram para mim, e desde então que manter os diários onde escrevo aquilo que sinto tornou-se um hábito. Quando vim para Portugal, devido às minhas influências musicais inglesas e por ser uma língua que também já conhecia na Moldávia, comecei a escrever letras em inglês. Ao nível poético, expressar-me em português acho que foi sempre um desafio para mim, mas quero superá-lo.

Antes da pandemia, era possível ver-te a atuar com a tua banda no circuito de bares. Fala-nos um pouco desse percurso que te trouxe até hoje.
Foi no secundário que comecei a minha primeira banda. Tinha 16 anos e foi algo que eu sempre quis fazer. Juntei uns amigos e formámos os GRYT. Ensaiávamos na associação de músicos e foi lá que conheci outras bandas que me convidaram para ser vocalista. Foi aí que surgiu a oportunidade de entrar no mundo dos covers e das atuações em bares, hotéis e eventos, o que me permitiu ganhar algum dinheiro com a música. Mas o desejo de fazer música original nunca deixou de existir, pelo que mantive sempre as duas vertentes. O último projeto que tive, antes de criar o meu projeto a solo, foi “EPIPHANY” - um duo de pop/ eletrónica. Hoje, além de CATALINA, o meu projeto a solo, mantenho a minha banda de covers.

Nos últimos anos tivestes duas participações em programas televisivos. Como foi para ti a passagem pelos The Voice?
Quem conhece o mundo das artes, neste caso da música, sabe a quantidade de “nãos” e críticas a que estamos sujeitos. O “falta isto, falta aquilo” com que nos deparamos na nossa vida. E eu já tinha recebido um “não” num outro programa em que participei, aos 16 anos. No fundo, sabemos que não é por alguém dizer “não” que vamos parar de fazer a nossa arte. Só porque alguém a não entende não quer dizer que ninguém a entenda. No entanto, voltar a participar num programa era-me muito assustador, mas a minha irmã insistiu, com a ajuda dela lá fui e recebi um “SIM”. No geral, foi uma boa experiência. Conheci pessoas com as quais ainda hoje mantenho contacto. Não deixa de ser um programa de entretenimento, pelo que nem tudo o que vemos é aquilo que parece. Da segunda vez, recebi um convite para fazer uma prova cega no The Voice da Roménia e fui principalmente pela experiência, pois nunca tinha estado na Roménia.

Recentemente lançaste três singles: Butterflies, Lost Control e Moving On. Podemos sentir que a Catalina se reinventa a cada canção. Que versão da Catalina podemos ver e ouvir em cada um destes trabalhos?
Cada música tem a sua sonoridade e corresponde a uma fase diferente da minha vida. A Butterflies, mais pop/R&B, é sobre um relacionamento que acabou mal, onde as duas personagens atacavam-se mutuamente sem razão, pois nada iria mudar. A mensagem é que o melhor é deixar ir; os sentimentos desaparecem, de qualquer maneira. Lost Control tem uma sonoridade muito alegre. No entanto, a letra é o oposto e eu queria criar este paradoxo para mostrar que nem sempre o que mostramos ao mundo é aquilo que sentimos interiormente. Ou seja, o primeiro impacto é a melodia da música que aparenta ser alegre, mas, se se perder um pouco de tempo a ler a letra, percebe-se que o sentimento é um pouco mais obscuro. A Moving On vai buscar uma sonoridade drum n’ bass, um estilo do qual também gosto, e influências a Ella Eyre.

Tens mantido colaboração com o produtor Tommaso Antico. Como conheceste o Tommaso e como tem sido trabalhar com este profissional?
Antes de trabalhar com o Tommaso, fiz alguns trabalhos com a “GoodjohnProductions”. Quanto ao Tommaso, conheci-o, penso, através do Pedro Baptista, o actual baterista da minha banda. Gosto da forma como ele faz soar a minha voz. Para além de que ele é uma pessoa fantástica e temos uma amizade muito boa.

A componente visual dos teus videoclipes é uma parte muito forte do teu trabalho e tem havido uma constante colaboração com a DNA Films. Como tem sido essa relação?
Ao trabalhar com o Tommaso conheci a DNA Films. Com a DNA fizemos vídeos muito elaborados. O trabalho deles tem muita qualidade e sinto-me à vontade, pois existe o fator amizade. No entanto, o vídeo da Moving On foi gravado com a SpearLight.

Se tivesses que enumerar apenas quatro artistas da nova geração que te admiras e que te inspiram, quais seriam?
É uma pergunta difícil porque eu ouço imensos artistas novos, todos os dias. Vou mencionar aqueles que tenho ouvido mais ultimamente e que me têm inspirado como mulher: Snoh Aalegra, Khelani, Kiana Ledé e Jorja Smith.

Neste período de pandemia, do que é que sentes mais saudades?
De voltar a tocar ao vivo e estar no estúdio.

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