Mónica Brazuna: “o que mais me fascina na fotografia é a beleza dos pormenores dos quais, por vezes, nem dou conta”

​No mundo do espetáculo, tudo é efêmero. Vivem-se momentos intensos que acabam por passar, sobrando as memórias que se desvanecem. Por sorte, a captação de imagem existe e, através de vídeo e de fotografia, alcançamos o poder de imortalizar estes intensos momentos. Hoje, conversamos com alguém que tem esse poder: Mónica Brazuna.

Mónica Brazuna por Teresa Correia

Descobriste esta paixão pela fotografia há alguns anos. Qual foi a primeira fotografia que tiraste com consciência de que fotografia era algo que querias seguir?
Lembro-me de que em pequena era observadora. Gostava de desenhar. Era mais fácil para mim comunicar ideias através de imagens do que por palavras. A paixão pela fotografia surgiu mais tarde. Não foi amor à primeira vista, aconteceu depois de comprar a minha máquina DSLR e de começar a fazer experiências. Devia ter uns 19/20 anos na altura. Apesar de no âmbito académico ter tido alguma formação em fotografia, na altura levei a experiência como algo mais técnico e não tanto como uma forma de expressão. Foi muito importante para agora desenvolver o meu trabalho e fazê-lo quase de forma automática em função do que pretendo, e dar mais primazia à intenção do que propriamente a esses aspectos. Não me lembro da primeira fotografia que tirei com a noção de que realmente seria uma paixão a seguir. Foi algo que foi acontecendo. Primeiro pedia a amigos para tirar umas fotografias. Entretanto conheci o pessoal da Epopeia e foi assim que comecei a fotografar no meio da música.

Sem essa consciência, existe alguma foto para a qual hoje olhas, achando que é realmente uma boa captação?
Como disse antes, foi um processo um pouco inconsciente. O gosto pela fotografia foi crescendo cada vez mais. Tenho especial orgulho nos trabalhos que tenho vindo a desenvolver com Riding a Meteor. A primeira fotografia que me vem à cabeça é uma do ‘meteoro’ dentro de água. Acho que é uma boa captação.

Riding a Meteor Promo 2017 © Mónica Brazuna

​Introduzimos-te falando sobre o poder de imortalizar momentos. Sentes que o tens quando estás a fotografar? O que te cativa a fotografar?
Sem dúvida que esse é um dos grandes poderes da fotografia. O que mais me fascina na fotografia são as histórias. São os momentos que me proporcionaram, as pessoas com quem estive, a beleza dos pormenores que existem à minha volta e dos quais, por vezes, nem dou conta. Ao fotografar fico mais atenta a essas pequeninas coisas. Para além do amor à fotografia, o que me cativa são as memórias que elas me trazem. Fotografar é poder guardá-las e celebrá-las.

Como descreves o teu estilo fotográfico?
Não sei se posso dizer que tenho um estilo fotográfico próprio ou que se apoia mais neste ou naquele registo. Às vezes questiono-me acerca disso. Penso que é o mais espontâneo e sem grandes ornamentos pré-idealizados. Uma das coisas mais gratificantes que disseram acerca do meu trabalho foi que o reconheceram antes de verem a minha assinatura, sem eu perceber como. Isso deixa-me contente.

Conta-nos o que é que para ti faz de uma foto uma boa foto. O que procuras transmitir com as tuas imagens?
Quando fotografo gosto de ser invisível, de interferir o menos possível na cena. Ser uma mera observadora. No momento em que fotografo torno-me muito mais atenta. O mundo à volta deixa de ser ruído e restamos eu, a máquina e a cena. Analiso a luz e o enquadramento antes de disparar. Não acho que exista um padrão para uma boa fotografia. Gosto de uma fotografia que requeira reflexão, que seja uma janela para novas visões para além da visão de quem dispara. Descrever em imagens emoções, sentimentos e conseguir transportar o espectador para universos para lá do meu olhar, para além daquele momento físico. A fotografia tem esse poder de mostrar uma realidade, contar uma história, mas também de dar azo ao observador para acrescentar mais um ponto com a sua imaginação.

Durante os últimos anos, já tiraste centenas de fotografias. Existe algum trabalho que te deixe especialmente orgulhosa?
Todos eles significam algo, tenho a sorte de todos os momentos que fotografei terem sido felizes. Momentos entre amigos, boa música. É difícil, por isso, tirar a afeição pessoal e destacar algum trabalho em particular, até porque cada um me levou a pôr novas questões e fez crescer enquanto fotógrafa. Mas acho que as sessões que tenho feito para a Epopeia têm tido resultados interessantes. Destaco as sessões com Riding a Meteor, Tiago Marcos e Sandra. As fotografias dos concertos de Mopho também me deixam orgulhosa.

Das várias temáticas que fotografaste, qual te agrada mais?
Gosto de fotografia de retrato e gosto muito de fotografia de espectáculo. Gosto de captar pormenores que à primeira vista passariam despercebidos pela sua subtileza, onde por vezes nem mora o foco da ação, e imortalizá-los. Gosto da energia, das luzes e das suas cores vibrantes, do que elas provocam e do que querem contar, dos efeitos dos rasgos da luz a incidir sobre a cena, quase numa brincadeira sedutora entre ela e as silhuetas criadas pela sua ausência. O que mais me fascina num espectáculo musical é a conjugação entre esses dois universos, a narrativa que embarcamos entre a imagem e as sonoridades.

Tiago Marcos 2017 © Mónica Brazuna

Riding a Meteor Festival Med 2018 © Mónica Brazuna

Quando trabalhamos para alguém, temos que cumprir certos objetivos e muitas vezes seguir-nos pelas suas regras. Durante os teus trabalhos como fotógrafa, sentes que existe liberdade artística?
Até agora, nos trabalhos que tenho feito de fotografia, as pessoas dão-me total liberdade para criar e têm sido completamente receptivas às minhas ideias, e eu às delas. E isso é muito gratificante. Esse dar e receber de visões e a confiança que as pessoas depositam ao serem fotografadas.

Quando tens uma sessão, decides o que vais fazer antes de começar a captar ou deixas-te levar?
Os trabalhos que tenho feito têm sido maioritariamente com pessoas ligadas ao mundo das artes. Procuro sempre fazer o ‘trabalho de casa’ antes, conhecer o trabalho do artista, as suas motivações para a construção daquela obra, o que queria transmitir, perceber um pouco da sua personalidade, para depois, sim, começar a pensar no espaço onde vamos fotografar e no tipo de material que vou precisar. No momento da sessão as coisas simplesmente começam a fluir sem grande planificação. Gosto do efeito surpresa e de conseguir ver algo novo para além do que tinha pensado. Ao longo da sessão, o trabalho vai-se construindo.

Fala-nos um pouco sobre o processo de ganhar confiança com as pessoas que vais fotografar, sendo elas muito ou pouco fotogénicas.
Tudo depende do à vontade que a pessoa tem à frente da máquina. Cada pessoa é bonita pela sua diferença. Nas sessões tento que a coisa se desenrole da forma mais descontraída possível (às vezes com algumas piadas à mistura para quebrar o gelo). Tento sempre captar o seu lado mais natural, sem grandes poses, tentar transparecer a sua essência.

Já deixaste de realizar algum trabalho por não te identificares com o tema ou com o modelo?
Até agora, não. Encaro-o sempre como um desafio.

Riding a Meteor - Promo Late 2017 © Mónica Brazuna

Em Riding a Meteor, tratas de grande parte da imagem. Acreditas que o facto de conheceres e participares no conceito ajuda-te a ser mais arrojada?
No início, quando o projecto ainda não tinha nome, o Luís chegou com a ideia e era preciso pensar num universo visual em torno das músicas que estava a criar. Sabíamos que a apresentação seria no Festival F e tínhamos alguns trechos de músicas que, aos poucos, foram ganhando corpo. Entretanto, o Luís e o Rui também começaram a escrever as letras das músicas. No começo, penso que todas as partes se iam completando umas às outras, foi tudo muito espontâneo. Era como se a ideia do mundo que queríamos criar fosse consensual nas três áreas e cada vez mais nítida. Por isso, sempre me inspirei muito nas sonoridades do projecto e tentei traduzir toda a história em torno deste meteoro nas fotografias. O maior desafio foi personificar algo que na realidade não é humano e tentar retratá-lo em ambientes meio espaciais, utópicos. As sessões aconteceram em âmbitos informais, momentos entre amigos em que tinha total liberdade para fotografar. Muitas das ideias até foram sugeridas por eles. Posso dizer que este foi o projecto onde tive mais liberdade e um dos que guardo com mais carinho. Para além do tema tão abrangente e interessante, fazer aquilo de que tanto gosto, entre amigos e pessoas tão talentosas, o que poderia pedir mais? ​


Por várias vezes fotografaste concertos. Tens algum truque para conseguires boas fotos, que possas partilhar com os nossos leitores?
Acho que o único truque é gostar verdadeiramente do que se está a fazer. Quando isso acontece, as coisas fluem melhor. Estar atento ao que se está a passar em palco e, acima de tudo, apreciar o concerto.

Riding a Meteor - Concertos 2018 © Mónica Brazuna

Se viajasses no tempo, que momento gostavas de ter fotografado?
Já que sonhar não custa, (risos) gostava de fotografar a Terra a partir do espaço... bem, ou fotografar uma das minhas bandas preferidas, Arcade Fire. Para além da música, todo espetáculo visual é muito bem conseguido.

Para terminar, e dando uso a uma frase cliché, acreditas que uma única imagem/fotografia pode valer mais que mil palavras?
Não acho que uma possa valer mais do que a outra. São formas de expressão diferentes. Claro que cada obra vale por si. Provavelmente a imagem pode ser mais imediata e despertar-nos o sentido com mais facilidade.

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