Teresa Aleixo: “se eu gostava de jazz antes de conhecer os In Tento Trio, fiquei a gostar e a compreender ainda mais”

Teresa Aleixo utiliza a sua caneta para escrever e a guitarra e o piano para compor. Durante anos resguardou-se na música, criando. Hoje, está preparada para lançar o seu primeiro disco a solo.

Teresa, quando começou esta tua paixão pela música?
Começou muito cedo. Lembro-me de, pequenina, me sentar em frente às colunas do gira-discos dos meus pais e ficar completamente encantada com os sons. Além disso, o meu pai tocava guitarra e a minha mãe cantava. Aos seis anos descobri um piano, quis aprender a tocar e, durante oito anos, tive aulas com a professora Eunice Valério.

O piano foi o instrumento que te atraiu para o mundo da música, mas sabemos que existem outros instrumentos e que a tua voz se tornou também a forma como transmites a tua arte. Que instrumentos tocas? E quando começaste a cantar?
Quando estava a aprender piano, o meu pai ofereceu-me uma guitarra e comecei, sozinha, a aprender. Tive também algumas aulas de bateria, mas quem acabou por seguir esse instrumento foi o meu irmão. O canto foi surgindo naturalmente, por estar rodeada de tanta música, e descobri que era esse mundo que me fazia muito feliz.

Adoras escrever. Sempre escreveste com o intuito de compor ou isso surgiu mais tarde?
Sempre gostei muito de escrever, mas fazê-lo com o intuito de compor foi por volta do terceiro ciclo de escolaridade. A Raquel, filha da minha professora de piano e grande amiga de infância, foi a primeira pessoa com quem compus. Os poemas eram próprios da nossa idade, mas o bichinho foi crescendo, fui amadurecendo e a minha escrita foi evoluindo. Como gosto muito do meu cantinho ao piano, seja para treinar, seja para criar, fui juntando música às minhas letras e vice-versa.

Onde vais buscar a inspiração para as letras que escreves?
A minha inspiração vem de tudo o que me rodeia, e por isso considero que os meus textos e as minhas canções são muito versáteis. Vou buscar inspiração, principalmente, ao que sinto em relação a determinadas situações ou pessoas. Sejam episódios marcantes, pela positiva ou negativa, que passei, coisas que vi ou algo que quero viver.

Quando é que subiste ao palco pela primeira vez para cantar? O que sentiste?
Sem contar com as festas da escola, ao longo dos anos, em que cantava ou fazia teatro, subi pela primeira vez a um palco a sério com a banda de liceu da qual fiz parte - os Fora da Bóia. Senti-me como me sinto sempre: ansiosa, mas muito feliz.

Como te sentes ao partilhares a tua música?
​É um misto de várias sensações. Por um lado sinto-me muito feliz por poder mostrar, finalmente, o que devolvi ao longo dos anos, com muito estudo e trabalho. Trabalhei muito para chegar até aqui e “engoli muitos sapos”. Mas também me sinto muito grata por não estar só nesta aventura e saber que as canções que agora partilho estão a ser entendidas, respeitadas e admiradas. É bonito sentir este conforto, porque partilhar algo íntimo nunca é fácil. Sinto-me segura, realizada.

Há muitos anos juntaste-te aos “Fora da Bóia”. Já tinhas tocado com uma banda? Como foi essa experiência?
Não, a minha estreia foi com eles. Foi uma experiência muito boa, porque aprendi bastante e vivi coisas muito bonitas com eles. Poder subir a um palco com amigos é sempre uma boa experiência.

E quanto aos “In Tento Trio”, como entra este trio de jazz na tua vida?

Eu frequentava muito um café-bar que existia em Alto Rodes, chamado Draculea, gerido pela Úrsula Mestre e pelo Valter Ego. Era muito frequentado por malta das artes, porque os donos também eram dessa onda. De entre várias iniciativas, a terça-feira era dedicada à poesia; quem quisesse podia declamar poemas; para além de declamar poemas de outros e meus, também costumava levar a guitarra e fazer umas brincadeiras, porque sentia à-vontade. O ambiente era fantástico e fui conhecendo várias pessoas que me “compreendiam”. Uma dessas pessoas foi Fernando Pessanha, dos In Tento Trio, que me desafiou a escrever para um dos seus temas, O Pianista e a Cantora.

Que papel desempenhavas neste projeto?
Como gostaram do poema, convidaram-me a cantá-lo e, a partir daí, foram-me pedindo para escrever e cantar mais. Passei a ser a cantora convidada e participei em alguns concertos.

“In Tento Trio” foi a tua escola? Como foi, na altura, deixares de cantar covers e começares a cantar as tuas próprias letras?
Trabalhar com os In Tento Trio foi uma experiência enriquecedora, com a qual aprendi bastante e desenvolvi não só a minha técnica de escrita, como também a vocal. E tive ainda o privilégio de poder subir a palcos bonitos como o do Teatro Lethes e do Club Farense. Se eu gostava de jazz antes de conhecer os In Tento Trio, fiquei a gostar e a compreender ainda mais. Os covers surgiram depois disso. Comecei a gostar cada vez mais de cantar e juntei-me a mais músicos. O primeiro duo de covers que tive foi com Carlos Martins. Ainda demos alguns concertos. Mais recentemente, juntei-me ao Raphael Lopes, criámos o duo Soul Addiction, e há já dois anos e pouco que tocamos juntos nalguns hotéis algarvios. Chegámos a atuar na Feira do Livro de Faro em 2017. Pelo meio, há sempre jams que surgem nos nossos concertos ou em concertos de amigos; é uma forma de o pessoal se apoiar e evoluir!

Quais as maiores diferenças entre a Teresa Aleixo dos “In Tento Trio” e de agora? (Que Teresa é esta que hoje sobe a palco? )
É uma Teresa mais segura de si e mais versátil. Na altura dos In Tento Trio, eu ainda não tinha encontrado a minha voz, ou seja, ainda não tinha uma identidade vocal ou musical. Todas as experiências que tive até criar o meu disco foram muito importantes para que eu percebesse que, afinal, era capaz de mais do que pensava.

Este mês lanças o teu primeiro disco a solo. Como defines este trabalho?
É um trabalho, de certa forma, autobiográfico, porque são oito canções que representam oito momentos importantes na minha vida (mesmo a letra da canção Paraíso, que é um poema de David Mourão-Ferreira). O meu disco significa, para mim, um recomeço; uma afirmação e, acima de tudo, uma luz no meio de tantos anos de sombra que tive.

É um trabalho feito com muito amor, criado durante os últimos anos em conjunto com os teus amigos. Quem são estas pessoas que referes como amigos e que papel desempenharam no teu álbum?
Quem me desafiou a pensar neste disco foi o Luis Rocha, do BoxMusic Studios (onde gravei o disco) e o Tércio Freire, também conhecido como Nanook (que o produziu). A partir das pessoas que eles conheciam e das que eu fui conhecendo, escolhemos o Paulo Franco para gravar as baterias, o Elísio Donas para os teclados, o Leon Baldesberger para os trompetes, o Pedro Gil para as guitarras elétricas e o Napoleão Mira para declamar um poema meu.

Contas que entre 2015 e 2018 construíste este teu álbum. Durante este tempo houve momentos menos bons?
Claro que sim, nada é perfeito. Mas foram esses momentos que me ensinaram e me trouxeram até aqui.

E dentro dos momentos bons, há algum que guardes na tua memória com especial carinho?
Guardo alguns, mas o mais emocionante foi quando ouvi os temas terminados, no estúdio, pela primeira vez; foi indescritível.

Já tivemos oportunidade de ver o videoclip do teu último single, Pudesse eu. Como foi a sua criação? (Alguma história engraçada nos momentos de gravação?)
A criação do videoclip foi muito interessante e motivadora. Juntei-me com o Ricardo Dionísio e com o Vando Daniel, comecei a explicar-lhes a mensagem por detrás da letra, bem como algumas ideias que tinha, e fiquei espantada quando percebi que eles tinha entendido tudo e as suas ideias eram praticamente iguais às minhas. Fiquei muito feliz e soube logo que iria correr tudo bem. A Maria Miguel nunca tinha feito nada do género, e foi emocionante ver todo o seu entusiasmo e toda a sua dedicação. Já conhecia vários trabalhos performativos do Pedro Monteiro e nem pensei duas vezes quando surgiu uma personagem com as suas características; ele foi fantástico. Foi muito bom todos terem compreendido a mensagem que eu queria passar. Tive ainda, graças à Daniela Parreira, o apoio do Hotel Real Marina & Spa de Olhão, e pude contar também com a ajuda do Paulo Franco nalgumas questões de logística durante as filmagens. Houve vários momentos engraçados: desde uma fila de turistas a querer passar nalguns locais de filmagem, a um barco cheio de gente a atracar no cais no momento em que estou a filmar uma das cenas finais. Não me podia rir e já não tinha muito tempo, porque o sol se estava a pôr…

Quem pensou na história do videoclip? E que história é esta?
A história foi pensada por mim, pelo Ricardo e pelo Vando. De uma forma muito resumida, quisemos mostrar uma pessoa que está em confronto consigo própria, porque não consegue reagir como devia ao que lhe acontece; depois passa por um período de inércia e, finalmente, com o apoio de quem já passou pelo que ela está a passar e viveu para contar a história, consegue encarar tudo com mais naturalidade e leveza, levando consigo a mesma mensagem de apoio que recebeu.

Para quem te quiser ouvir ao vivo, onde te poderá encontrar nos próximos meses?
Para já, tenho apenas agendado o concerto de lançamento no dia 30 de Março, no Club Farense, pelas 22 horas. Será anunciada, brevemente, a agenda de concertos para os próximos meses.

Quem quiser seguir-te nas redes, onde te encontra?
Podem fazê-lo no Facebook ou no Instagram (teresaleixomusic).

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